quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Candle in the wind

O que vocês estão vendo aqui?



Causou um certo frisson na imprensa a aparição da candidata a eterno mau-exemplo Lindsay Lohan imitando o mito Marilyn Monroe em seu último ensaio fotográfico. Seis semanas antes de morrer, Marilyn posou em duas sessões para as lentes de Bert Stern, numa suíte do hotel Bel Air, em Los Angeles. As fotos ficaram conhecidas como "The Last Sitting", e criaram polêmica porque mostraram Marilyn nua, pela primeira vez, depois da famosa foto clicada por Tom Kelley para o calendário de 1952.
Eis que Bert Stern selecionou cerca de 60 imagens e promoveu uma mostra - que esteve aqui no MAM-Rio no final do ano passado. A mostra virou livro, e enquanto certamente muitas mulheres viram "Marilyn Monroe: O Mito" (Sextante, 128 p.) e só enxergaram um peito caído e a magreza daquela mulher, eu vi uma flor de estufa.
A flor de estufa tinha 36 anos e, por algum milagre cibernético, não achei na web nenhuma das fotos que exibem as marcas capazes de contradizer o número: as mais do que aparentes rugas, as sardas, a flacidez da pele. A vela ao vento tinha só 36 anos e rugas como só as quarentonas-cinquentonas exibem hoje. Embora não usasse maquiagem além do batom e do delineador no ensaio - assim o diz o fotógrafo - a diva parece estar debaixo de quilos e quilos de base, ou algo que mascara a sua verdadeira expressão. Uma máscara.
O release da editora diz que as fotos mostram uma Marilyn "madura, esbanjando sensualidade". Eu não vi nada disso. Eu vi uma balzaquiana adernando sob o peso do próprio mito, sendo tragada pela própria fragilidade, afogando-se em litros e litros de champagne para suportar a dor de ser uma fachada, um símbolo, um ícone. Eu vi uma menina que foi abandonada e passada de família em família até o primeiro casamento. Eu vi uma mulher que casou-se três vezes e passou por todo tipo de sacrifício para provar seu valor - até pelo estupro. Eu vi uma atriz que foi espancada pelo marido depois de filmar sua mais famosa cena. Vi uma cicatriz - um ícone no ícone, um órgão extirpado, uma amostra de humanidade, um anúncio do fim que chegava mais e mais perto. Vi uma pessoa que ia morrer dali a pouco sonhando com um pouco mais do que fama e glória: ela sonhava com respeito, com carinho, com afeto genuíno, com algo e alguém para além do delineador e das garrafas de espumante que lhe conferiram o tão adivinhado glamour.
No entanto, nada disso diminui o impacto da imagem. Em cores ou preto-e-branco, com rugas, sem vesícula, sorrindo ou fingindo dormir, piscando, mordendo os lábios, brincando com a transparência das echarpes ou com as rosas de tecido, Marilyn nunca deixa de ser uma presença indelével. Só o próprio Stern sabe o que se passou nos dias e noites com ela na suíte 261 do Bel Air. E assume: tentou roubar-lhe um beijo, num descuido diante do magnetismo do mito. Ela, como quem se desilude, o afasta. E volta a fechar os olhos, inocente e confiante de que o seu "não" era a resposta definitiva.
Portanto, não me venham com esta baboseira de Lindsay Lohan que eu ainda acabo esculachando alguém. O mais perspicaz dos críticos, cujo nome me falta agora, resumiu tudo: enquanto Marilyn é o que é, aquela fedelha ridícula é apenas vulgar. Vulgar e oportunista. Porque mesmo em pleno declínio, a flor de estufa é infinitamente mais bela e digna do que aquele arremedo de maria-sem-vergonha.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Sadeness

Sobre esse sentimento desconhecido cujo tédio, cuja doçura me inquietam, hesito em usar o nome, o belo e profundo nome de tristeza. É um sentimento tão completo, tão egoísta, que quase me envergonha, ao passo que a tristeza sempre me pareceu digna. Esta, eu não conhecia, mas sim o tédio, a saudade e, mais raramente, o remorso. Hoje, algo se dobra sobre mim como uma seda, leve e suave, e me separa dos outros.

Não gostei do livro. "Bom Dia, Tristeza". Mas estou com desconfianças quanto à tradução, sei lá. Às vezes me pareceu que faltavam pedaços no texto. De todo modo, este começo é belíssimo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Mystery

Esse Marcelo Backes...

lá pelo meio do seu "Estilhaços", me tasca as seguintes pérolas:

"O estudo da própria dor
Descobri uma das causas da minha enxaqueca. É só encontrar pessoas dois dias seguidos que o terceiro vira um inferno."

"Contra-senso
Mesmo depois de ter explorado todos os seus mistérios, ela continua uma esfinge..."

domingo, 24 de fevereiro de 2008

The sweetest taboo

Gosto de coisas assim: perenes.
Como cai bem ao gosto taurino.
Perenes e sólidas. Que começam devagar, constróem bases, criam substância.
Nascem e crescem, como tudo que é vivo.
E que estão sujeitas a morrer - como tudo que é vivo - mas que nos esforçamos para manter, como tudo aquilo que vive para nós.
Que começam aos poucos, que aparecem de leve, que não se impõem, não exigem, não demandam, não protestam.
Aguardam. Fruem. Sabem o tempo de esperar e juntar forças e o tempo de florescer, de gastar toda a energia acumulada. Aguardam as épocas certas, que se existem na natureza hão de existir para nós também: primavera, verão, outono, inverno. Épocas de florir, de colher, de descansar, de plantar. Sem morrer.
Sabendo que o tempo é o tempo. Passa, e nem tudo fica - só o que é perene apesar do ritmo inclemente da natureza.

Domingo

Senhoras e senhores, aí vai a segunda parceria.
É quase como Vinícius e Tom versão Posto 6, século XXI: Carol e eu.

Domingo com sol
Domingo sem sol
É sempre domingo
Domingo é tudo calado
Fechado
O silêncio pairando no ar
Domingo é dia de comer
Rezar
Descansar
Chorar
Domingo é triste
Domingo não existe
(...pelo menos não deveria, mas insiste)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Brainstorm

(ou: Twitter numa noite de sábado)

Ai meu ombro.
The troublehunter strikes back. Sua masoquista incorrigível.
Estou até impressionada com minha resiliência nesta semana inacreditável.
Ele tinha razão: não confio mesmo. Fico besta com a cara de pau (e/ou a carência, e/ou a safardanice) das criaturas.
Será que algum desses vai ser legal? Amanhã não posso esquecer de começar a ligar.
Será que ele vem pro dia 4?
Existem pessoas que fazem de tudo um jogo
Eu e minha maldita boca. Devia ter ficado quieta, ou ter falado mais, sei lá.
Oh my. Vai ser uma noite tediosa.
Preguiça. Esta preguiça ainda vai me matar. Devia ter ido ao super.

I've got to see you again

Xico Sá, again. Eu sei que é chato esse negócio de copia-dos-outros-e-cola, mas é que o cara é genial.

A GENTE SE VÊ - PARTE II

“A gente se vê.” Pronto, phodeu, eis a senha para o nunca mais, o “never more” do corvo do tio Edgar A. Poe.
A gente se vê. Corta para uma multidão no viaduto do Chá.
A gente se vê. Corta para uma saída de estádio lotado em dia de decisão do campeonato.
A gente se vê. Corta para “onde está Wally”.
Nada mais detestável de ouvir do que essa maldita frase. Logo depois a porta bate e nem por milagre.
Jovens mancebos, evitem essa sentença mais sem graça. Raparigas em flor, esqueçam, esqueçam.
Melhor dizer logo que vai comprar cigarro, o velho king size filtro do abandono. Melhor dizer que vai pra nunca mais. Melhor o silêncio, o telefone na caixa postal, o telefone desligado, o desprezo propriamente dito, o desprezo on the rock´s.
A gente se vê uma ova. Seja homem, torque de palavras, use o código do bom-tom e da decência. A gente se vê é a mãe, ora, ora.
Como canta o Rei, use a inteligência uma vez só.
Esse “a gente se vê” deveria ser proibido por lei. Constar nos artigos constitucionais, ser crime inafiançável no Código Penal.
A gente se vê é pior do que a gente se esbarra por ai. Pior do que deixar ao acaso, que jamais abolirá a saudade, que vira uma questão de azar e sorte.
Melhor dizer logo “foi bom, meu bem, mas não te quero mais”. YO NO TE QUIERO MAS, como na camiseta mexicana que ganhei. Dizer foi bom meu bem e pronto, ficamos por aqui, assim é a vida, sempre mais para curta do que longa-metragem.
A gente se vê é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. A gente se vê é a vovozinha da fábula, ora!
Seja homem, diga na lata.
Não engane a moça, que a nega é fino trato, que não merece desdém.
A fila anda, jogue limpo.
A gente se vê. Corta para uma multidão no Galo da Madrugada. A gente se vê. A gente se vê. Corta para a festa do Círio de Nazaré. A gente se vê. Corta para a festa do Morro da Conceição. A gente se vê. Corta para o dia de Iemanjá em Salvador. A gente se vê. Corta para o reveillon na praia de Copacabana.
A gente se vê. Então aproveita e vai logo ver se eu estou na esquina da São João com a Ipiranga.

Sobre o tempo

Gostei da brincadeira da Tati e resolvi fazer também.

Em 78...
eu não era nem um projeto. Talvez minha mãe estivesse numa das suas gravidezes que não vingou.

Em 83...
eu fiz três anos. E não lembro muito mais do que isso, não.

Em 88...
eu fiz oito anos, estava na terceira série e era o protótipo da nerdzinha. Meu irmão fez dois anos, minha avó já tinha falecido. Eu acho que já gostava do Dominó, não lembro. Meu bolo de aniversário foi, na verdade, dois bolos que formavam um 8, e a festa foi temática da Xuxa. A vela do bolo era um microfone. Eu usava bota com calça de moletom e uma franja ridícula.

Em 93...
eu estava na oitava série, encerrando o ciclo nerd-de-carteirinha para entrar, no ano seguinte, no ciclo vocês-pensam-que-somos-nerds-mas-fazemos-merda-que-nem-todo-mundo. Já tinha feito três cursos de informática, comia churrasco todo domingo ouvindo música sertaneja do meu pai e não perdia um "Love Songs", programa do Arlindo Domingues na Rádio Cidade. Dava gritinhos quando tocava "Take my breath away" e ria à beça das traduções das músicas.

Em 98...
finalmente fiz 18 anos e parei de ter medo de que me pedissem identidade na noite. Já estava no segundo ano da faculdade, achando tudo um saco, passando mais tempo na sinuca e no bar do que em sala de aula - fato que acabou me alcunhando de "Lu da Biblio", porque ninguém acreditava que eu não fazia comunicação. Minha festa de aniversário foi no Park Café, cheia de gente bacana e divertida. Teve aquele Festival de Cinema de Gramado frio pra cacete e no final do ano me mudei pra Rua da Praia. Entrei no meu primeiro estágio. Que tempo bom.

Em 2003...
eu já estava casada. Fiz minha pós. Me mudei da Lima e Silva pra Duque. Tinha o pior emprego da minha vida, embora fosse o melhor salário até hoje. E já tinha vindo pela primeira vez ao Rio de Janeiro, que continua lindo e com mais duas estações de metrô, construindo a terceira.

Berlim Bom Fim

E a chefe adorada apronta mais uma das suas.
Tasca no meio das minhas literaturas de sexta-feira três livros duma coleção sobre Porto Alegre: um Anedotário da Rua da Praia, um do Luiz de Miranda e um do Juremir Machado da Silva que se chama "Antes do Túnel, Junto às Palmeiras: uma história pessoal do Bom Fim".
Chorei (tão incomum, isso).
Melhor: fiz de conta que estava com coceira nos olhos, e disfarcei ao ler todas aquelas páginas falando das ruas tão conhecidas, daquelas quadras por onde tanto andei (para plagiar o Quintana), da Lanchera e do suco-de-limão-com-xis-salada das manhãs pós-balcão do bar, do Baltimore, cuja penúltima sessão assisti sem entregar o ingresso, da Redenção, daquilo tudo.
E das pessoas.
E ele termina com um poema, que não copiei todo mas que termina dum jeito de (me) escangalhar:

Cantiga do Bom Fim (releitura II)

[...]
Amanheço em meu Bom Fim,
Me lembrando de onde eu vim,
Mas não sei se vou voltar...

A viagem

E justamente, precisamente neste dia em que imprimi um extrato bancário e saquei caneta e calculadora para concluir que precisava puxar o freio de mão se quisesse manter minha reputação de mão-de-vaca (ou de touro, como preferirem)...
precisamente neste dia preciso gastar mais R$ 40 na farmácia, R$ 25 em mais um feliz conluio feminino (com direito a Confracóptero e Conframóvel, com um Conframotora) e R$ 60, aproximadamente, para subir o Morro da Urca e ver o Roupa Nova.
E a despeito de ser um show que já vi, do público ser o ó do brega e do mal-educado, do fedor de cigarro me convencer de que não há nada como o meu lar, cada centavo dispendido para ouvir ao vivo aquelas vozes e aquelas performances vale a pena.
É necessário esclarecer que desta vez o set list, que não vi até o final, incluiu "A Viagem", que não tive o prazer de desfrutar quando do show no Circo.
Viajei. No show, naquela puta paisagem do Morro, lá embaixo as luzes da cidade que não dorme enquanto o Cristo não abaixa os braços e abençoa todo mundo - até as pobres alminhas perdidas e solitárias como eu.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A fábrica do poema

A Carol escreveu, eu dei uma guaribada, e modéstia à parte de nós duas, ficou deveras:

Foi

Não sei o que foi
Sei que se foi
Sumiu como fumaça
Que por mais que sufoque passa
Mesmo que aos poucos, ela sai
E some, e vai
Foi
Foi fumaça
Que ardeu nos olhos
Fez lacrimejar, deixou sem ar
Sufocou, mas enfim
Passou
Foi
Intenso, imenso
Puro sentimento, único, verdadeiro
Mas ímpar
E sem par não dá pra amar
Pois não se ama sozinho
Será então que não foi amor?
Será que foi só ilusão?
Foi
Não sei o que exatamente
Mas foi
E enfim passou
E eu fiquei

Human behaviour

A Bjork é que sabia do babado.
If you ever get close to human behaviour, get ready to be confused.

Enquanto isso eu tento sobreviver em meio ao mundo de pó de cimento que trocou minha janela por outra, de parapeito de granito e grade que dá até pra se debruçar.

*Soooooo tired*

Aí no meio de tantas ocorrências desta vidinha medíocre, aparece na noitinha da quarta-feira a frase, assim mesmo ou bem parecida:
"Só soube que ser humano existia de verdade quando te conheci".
A frase.

Dogs

Repito, repito, repito esse título à exaustão.

And you believe at heart everyone's a killer

A cada dia, mais definitiva.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Friends

E o troféu "melhor cena de abertura de minissérie" vai para esta.
Parei de respirar vendo o carro indo, indo, devagarzinho e em silêncio.

On a day like today

Dá vontade de se enfiar numa caverna.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Ustê

Xico Sá strikes again:

A PELEJA DO FROUXO X O CANALHA

“Pois saibam todos vocês: prefiro um bom canalha a um homem frouxo.” A sentença de Carol, sem deixar um farelo de dúvidas sobre a mesa repleta de bebidas e acepipes, fez com que alguns de nós levássemos a mão ao queixo. como se todos virássemos, naquele instante, ingênuos pensadores de Rodin ou paralisadas estátuas de sal, como na Bíblia. Pense. Pense em um momento solene!
A frase nem era para tanto, mas saiu tão afirmativa, tão sem dúvida ou vacilo, que balançou até a plaqueta do “Fiado só amanhã” do boteco.

[...]

Ela não repetiu a frase, não carecia, a frase ecoava como uma sentença romana e voltava a balançar as garrafas, a mexer com os presentes, os vivos e os que por ali passavam àquela altura.

O canalha, concluímos, sem que ela dissesse mais nada, merece mais respeito porque é mais explícito, a mulher já entra na história sabendo, e ainda pode ter momentos líricos, passionais, bonitos, pois todo canalha é, no fundo, um devoto, ajoelha-se diante de uma fêmea como um romeiro diante do seu santo predileto.
O frouxo representa, sem nenhum distanciamento, a maioria dos homens contemporâneos e o chove-não-molha da hora. O indeciso, o confuso, melhor, o “cafuso”, como dizia o velho Didi Mocó, essa gréia toda, essa onda, essa fuleiragem social clube. O fraco não se apresenta para valer no jogo, titubeia, faz que vai e acaba não “fondo”, como dizia, no seu genial futebolês, o Dedeu, um desses tantos macunaímas da bola, cearense que brilhou (pelo menos na prosódia) no Clube Náutico Capibaribe.

Triste escolha essa: o canalha ou o fraco. Mas vai ver, amiga, tem coisa melhor por ai dando sopa. Só sei que nada sei sobre esse assunto, como diria o grego complicado. Melhor ainda, como diria Roberto Carlos das antigas: “Só agora eu sei, o que aconteceu/quem sabe menos das coisas/sabe muito mais que eu!”

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Someday I'll be Saturday night

Tudo o que eu tentei foi ser o ser menos enfadonho, menos incomodativo, menos repetitivo, menos chato do mundo.
E tudo o que consegui foi morrer de solidão.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Tele-fome

Aos que não sabem, anuncio: não atendo meu telefone fixo a não ser que esteja devidamente desperta e disponível. Não levanto do sono, sequer da preguiça, não fecho torneiras que enxugam louças, nem tiro o sabão das mãos que esfregam roupas.
Explico: meu número do telefone parece demais com o de uma casa comercial em Nova Iguaçu. É apenas um dígito, um diabo dum número repetido que faz toda a confusão.
Ocorre que são quinze pras cinco da tarde de sábado e meu telefone já tocou exatas seis vezes. Num sábado.
As duas primeiras, deixei que meu lençol ouvisse comigo, sete toques cada vez até desligarem.
Na terceira, procuravam por Margarida.
Na quarta, era um mudo.
Na quinta, a Tim tinha selecionado meu número para me oferecer um pacote de minutos. Tive de frustrar o ímpeto vendedor da menina, informando que já sou cliente Tim. Não é bom quando o cadastro de clientes funciona?
E agora, na sexta vez, o telefone toca para alguém na maldita Casa Cruz. Antigamente eu até dizia qual era o erro na discagem, mas hoje já falei demais ao telefone para dar esta informação. 102 na veia, filha.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

No ordinary love

Fui assistir hoje à defesa da quiçá melhor pessoa que o Rio me deu a chance de conhecer.
E por uma combinação de fatores, fui obrigada a sair antes mesmo dela terminar sua exposição.
Por mais que sair antes do término tenha me doído, nada me doeu mais do que ver que tomei um rumo tão distinto do dela.
Fiquei lá vendo, assistindo minha amiga tão cara falando de seus afetos.
E invejando.
Aquela inveja boa, sabe? Aquele orgulho por ver um esforço recompensado - porque eu bem sei o esforço que ela empreendeu pra defender suas idéias.
Mas tive inveja. E medo, de nunca poder ser brilhante e especial do mesmo jeito.
E uma tristeza funda, funda. De ver uma pessoa tão Spinoza falando a mim, Schopenhauer aprisionado no século XXI.
Ver tanto afeto, tanta felicidade, tanta pulsão criativa, que não bate em mim a não ser para de algum modo me dizer de como não consigo ser.
Saí de lá, e como de praxe nestes meus últimos dias, chorei.
Por sorte tenho óculos de sol grandes, e as pessoas hoje em dia pouco se dão a enxergar os outros que se lhe cruzam os caminhos. Ao contrário da minha amiga, cuja luz e atenção nenhum óculos é capaz de sequer disfarçar.

A fábrica do poema

Tão perdida nos meus últimos vales que me esqueci das pequenas pérolas que encontrei no livro de Suffit Kitab Akenat, "Máximas mínimas e outros textos". A história da mulher é algo, mas é melhor ler no livro. O que interessa agora são suas palavras, vertidas para o português pela filha da moça:

15. Cheguei onde estou
Mas não me verás como eu
Gostava de ser

18. Vives uma fuga
Veloz que nem conheces
O canto que cantas

52. Sexo não é nada
Nem tão-pouco suficiente
Porque há sempre fome

74. Quando já viveste
Nada é tão profundo e belo
Como sobreviver

100. Não tenho uma língua
Exclusiva da expressão
Porque penso e mordo

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Fera ferida

Eu sei
O coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não esqueci

Crazy

Chega a dar medo tirar essa carta hoje.

Carta do dia: O Louco
Momento de voar

A hora é esta, Luciana: arriscar-se, atirar-se destemidamente na direção do novo. Ainda que muitas pessoas possam se apavorar e tentar lhe demover daquilo que sua alma interpreta como um novo impulso criativo, não se incomode. As pessoas falam porque estão viciadas em certezas e seguranças. Mas O Louco, arcano zero do Tarot, vem lembrar que, eventualmente, alguma loucura é mais do que bem-vinda! Ponha sua vida em movimento e lembre-se que é sempre momento de recomeçar. Evite o medo e não espere as coisas tomarem uma forma “certa” para agir. Vá!

Paraíso das hienas

Senhor, abençoai as hienas, porque pelo visto só elas é que são dignas de paz de espírito nesse universo.
Quando é que a onda das urucas vai passar?
Não quero mais ter de fazer apostas sobre o que é que vou encontrar de diferente em casa.
Hoje me dei conta de que perdi uma caneta de escrever em CD. Ou será que ela foi refrescar a cabeça com o marceneiro enquanto a tampa ficava aqui, pra eu não dar falta?

Why

Eu só queria entender por que é que de repente tantas músicas começam a ecoar e fazer tanto sentido numa vida tão desprovida de sentido.
Why.
Dogs.
Everybody hurts.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Fada madrinha

Na falta da confraria de lei - que acho que se aposentou - mandei ver na carta de drinks da casa.
O de hoje se chama Godmother, e serviu pra fazer algo de útil com os presentes do natal.
Anotem aí:
Vodca e Amaretto, em partes iguais, em copo old fashioned e muito gelo.

Té que deu pro gasto.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

There must be an angel

playing with my heart, and my books.

Bufo & Spallanzani termina assim:
"[...] Foi isso que aconteceu. Essa é a verdade. Não me olhe assim, não posso fazê-la voltar a viver, para morrer de câncer. Não me chame de demônio astucioso. Se você quiser eu vou agora mesmo contar tudo ao Guedes, vou me entregar à polícia. A vida para mim já não vale mais nada. Você quer? Anda, diga."

E Caio F. (cujo F devia ser de Foda mesmo), me apunhalando em cada pequena epifania:

"Frágil - você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal, de algum lugar improvável, Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos, começa a passar.
Outra vez chinês, você se afasta um pouco para ver melhor o ideograma. 'Verdade interior' - você repete. E acrescenta: 'Tenho uma boa taça. Quero compartilhá-la com você'. Estende as mãos para a frente, como se fosse tocar o rosto de alguém. Mas você está sozinho, e isso não chega a doer, nem é triste. Então você abre a janela para o ar muito limpo, depois da chuva. Você respira fundo. Quase sorri, o ar tão leve: blue."

"Vim para casa humilde. Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu 'dói tanto', contei da moça vadia sozinha chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou 'porquê?', compreendi ainda mais. Falei: 'Porque é daí que nascem as canções'. E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?"

Being boring

É quase um recorde: sessenta horas sem sair de casa.

Mas esse post era pra comentar que:
jesus-maria-e-josé, que coisa mais chata é o tal Kama Sutra.
Será que a versão com figurinhas tem outro texto? Não é possível.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

O Som e a Fúria

Não entendo por que é que eu continuo tentando reinventar a roda.
Shakespeare já matou a charada há uns quatrocentos anos (literalmente):

Life’s but a walking shadow, a poor player,
That struts and frets upon the stage,
And then is heard no more. It is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.

Teve também a coincidência de eu terminar de ler Bufo e Spallanzani, e a escolha consciente pelas Pequenas Epifanias do meu caríssimo Caio F.
Mas ainda assim, nada quer dizer nada.

Maldita preguiça

Agora foi-se o boi pras cordas.
Perdi o pudor de colocar o micro do lado da cama...
tirem-me daqui se forem capazes.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Feel no pain

COMO, DEUS DO CÉU?

(se é que tu existes?)

Deixando o pago

Alcei a perna no pingo
E saí sem rumo certo
Olhei o pampa deserto
E o céu fincado no chão
Troquei as rédeas de mão
Mudei o pala de braço
E vi a lua no espaço
Clareando todo o rincão

E a trotezito no mais
Fui aumentando a distância
Deixar o rancho da infância
Coberto pela neblina
Nunca pensei que minha sina
Fosse andar longe do pago
E trago na boca o amargo
Dum doce beijo de china

[...]

Como é linda a liberdade
Sobre o lombo do cavalo
E ouvir o canto do galo
Anunciando a madrugada
Dormir na beira da estrada
Num sono largo e sereno
E ver que o mundo é pequeno
E que a vida não vale nada

[...]

Falam muito no destino
Até nem sei se acredito
Eu fui criado solito
Mas sempre bem prevenido
Índio do queixo torcido
Que se amansou na experiência
Eu vou voltar pra querência
Lugar onde fui parido

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Tired of "me"

Dedos mudos
Ouvidos moucos
Coração oco
Só a cabeça é que continua cheia
E os olhos inundados


****
Aí desembarco na noite chuvosa da Baía, esperando que o terremoto tivesse terminado no apartamento, e dou de cara com uma luminária nova e um vazamento no banheiro.
Oh céus.
Só espero que a máxima da bonança seja real. Porque aí... é o Paraíso se aproximando.


****
Notas dos últimos dias.
- não vi ninguém, não falei com ninguém, não procurei ninguém. Deixei o acaso fazer a parte dele... e ele fez com louvor. Me pôs a encontrar Ruben Oliven, o lorde, em pleno Olaria. Mereceu até um Casa Silva Carmenère 2006 pra comemorar.
- espirrei a cota do ano todo, gastei um tubo de Sorine infantil, e ainda voltei com dor facial.
- Amei a saída daquela escola não-perguntem-qual, mas a que ia sair com o carro do Holocausto. "Não se constrói o futuro enterrando a História". Falou pouco mas disse tudo.
- Alguém mais viu aquele "Toptop" da MTV falando sobre os maiores fiascos da história da música? E decretando que o maior fiasco era da MTV pela morte do videoclipe? Se a Marina e o outro menino cujo nome me escapa não foram demitidos, pelo menos fizeram uma celeuma das boas.
- Pelo amor da Curupita. Os sócios fiéis da SAPA se viram órfãos nesse feriado. NADA abriu. E eu lá, quase suspendendo meu título honorário.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Sossego

Me propus a passar um Carnaval sem ziriguidum, telecoteco, balacobaco, encheção de saco pra ir sei lá eu aonde e em que bloco com nome engraçadinho.
Vim pra vocês-sabem-onde curtir meu resfriado, minha dor de garganta, tempo fresquinho, chuva e feriado justo no dia em que eu ia abalar Bangu comprando o shopping todo.
Mas como nada neste mundo me acontece sem uma tinta surreal, viemos no mesmo vôo eu, uma comitiva religiosa que era quase uma reunião da CNBB e Elke Maravilha, a vovozinha mais da pá virada de todo o universo.
Câmbio, desligo. Retorno a comunicação quando houver ânimo, paciência, o fim do Carnaval, o adeus do resfriado ou tudo junto.