É, chove. Lá e cá.
E eu, nesta minha já costumeira falta de energia vital, nem saio da cama nem enfrento a água. Muito menos faço o que deveria: tentar tornar o lugar menos escancaradamente esperando uma invasão, alguém atrás dum corpo que abandonou a casa há muito tempo - porque de tudo, só falta o corpo. O abandono já está aqui, gritando em cada sapato fora do lugar, em cada canto vazio na geladeira, em cada peça de roupa que espera ir para o armário ou para uma sacola de caridade.
Nem de canetas convulsivas vive este espaço. Eu tento, mas elas caem, escorrem pelos dedos, recuam, escondem-se. O papel fica em branco. A tormenta está aqui dentro, mas não encontra a saída.
Antes da derrota definitiva, sobrou tempo para um último suspiro, ontem. Transcrevo:
Não sei falar.
Sinto-me pouco à vontade, sinto-me pouco eloquente, confusa, impertinente, inadequada. Pouco objetiva. Tomando o tempo alheio.
E se, há tempos atrás, a relação profissional terapeuta/paciente me parecia violenta, hoje em dia me parece mais dolorosa.
Porque o terapeuta está lá para servir de espelho, um rebatedor do som de nossa voz. Não é o terapeuta que opera, é nosso cérebro trabalhando o estímulo auditivo por ele mesmo fabricado. E o recorrer ao terapeuta é o atestado triste de que não temos rebatedores civis aos nossos queixumes.
Eu não tenho, mesmo.
Esse mundo é uma droga e obriga as pessoas a horários insanos, vidas estranhas, regras demais ou a ausência delas. E eu, de meu lado, deixei uma parte de mim em algum lugar sem chance de recuperação.
De momento, sinto-me cansada da ilusão. Do calor macio e fugaz das pequenas alegrias. Sinto-me doente da mais profunda solidão. Da falta total de compreensão de qualquer movimento, ou da falta disso. Sinto-me enganada.
Traída por falsas paixões, desenganada por encontros fortuitos, acabada por discursos cínicos, calada por porções infindáveis de comida: feio falar de boca cheia, sobra mais silência a se ocupar com besteirol, politicagem e sordidez.
Mas um dia ainda faço uma boa escolha. Parto pra
(e aqui a caneta falhou, caiu, rabiscou nada de útil, e caí numa mistura de choro cansado e sono abatendo)
domingo, 13 de dezembro de 2009
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