sábado, 13 de junho de 2009

Stars

Passo um creme novo no corpo depois do banho. O cheiro dele combina com o do sabonete; são da mesma marca. Espalho o creme, e vou para a cama.
Té que demorou pra ela aparecer de novo por estas plagas. Mas o combo Rivo 1mg + Resfenol + chazinho de cidró sucumbiu ao poder de Salvatore Ferragamo e sua sparkling lotion.
Não é a filosofia do livro que me chama a atenção. Estou embriagada pelo cheiro. Procuro reconhecê-lo em mim, em meu ombro, nas minhas mãos, nas pernas, na dobra dos cotovelos, e em nenhum lugar ele é igual a quando estou imóvel, lendo. Fiquei aqui, que nem o perfumista medieval do romance, me consumindo e me tragando a cada golfada de ar, descobrindo novidades em cada dobra da pele, aspirando o cheiro e tentando transformá-lo em indelével impressão, memória laboriosa fixa feito tatuagem ou tiro à queima-roupa.
E então eu as vejo. Incontáveis e pequeninas partículas brilham em cima de mim. Laranjas, rosas, quase verdes, amarelas, vermelhas, brancas. Miríades de pontos de luz e odor sobre todo o meu corpo. A filosofia se perdeu em alguma dessas constelações...
Enquanto isso, ventoinhas a mil.
Decifro-me ou me deixo devorar?
Sou tantas. Várias. Múltiplas. Fera, bicho, anjo, mulher, mãe, filha, irmã, menina, transeunte, vizinha, desconhecida, todas minhas e muito minhas. Fazendo escândalo, pintando as unhas, doendo o corpo, ninando a pelúcia, lendo desbragadamente como quem fuma. Vícios, vícios.
Belos tintos maduros, frescos brancos joviais, trigais, amanheceres e pores de sol.
Cores.
E as flores, morrendo ou sempre-vivas.

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