quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Destiny

Eu era a única pessoa sentada no café, esperando meus pãezinhos de queijo. Nos quatro minutos que a fornada ia levar pra sair, as outras mesas encheram. Fazia frio, chovia, e todo mundo só queria saber de uma bebida quente.
Aí entrou uma senhora, no seu uniforme de caminhada, e pediu um café. Olhou em volta e não havia lugares. Tirei minha bolsa do meio da mesa e ofereci o outro assento. Ela agradeceu, disse que preferia sentar antes de derrubar todo o café.
E começou a falar. Disse que estava muito bem, muito feliz, estava conseguindo manter o peso desde a morte do marido, e refeições, qualidade de vida, bla bla bla. Eu me esforçando pra ser simpática enquanto ela desfiava seu rosário de amenidades de senhora classe-média-bem-pra-alta-de-Copacabana. Até que ela conta que fez duas faculdades, que enquanto fazia o clássico alguém arrumou uma vaga pra ela na Biblioteconomia...
Arregalei os olhos.
JURA?
Pois foi, menina! Então, eu fiz o terceiro ano do clássico junto com a Biblioteconomia, e fui ser bibliotecária lá na Presidente Vargas. E fui aluna do Afrânio Coutinho! E bla bla bla.
Em quinze minutos ela praticamente me contou a vida toda. Descobri que ela foi só mais uma da pá virada que não resistiu ao tradicional sepulcro das salas de leitura, foi fazer relações internacionais, viajou muito, conheceu o mundo, casou depois de dez anos morando junto e agora, às portas dos setenta, está muito de bem com a vida, obrigada. Mora no lugar de maior bochicho da Zona Sul - a duas quadras da minha casa. Diz que é da turma da melhor idade e já entra em tudo que é lugar brandindo a identidade, pedindo seu desconto e rindo pra vida que é boa e que merece ser vivida numa boa. E saiu pra comprar cigarro, já que ela tenta, tenta mas não consegue parar.

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