quarta-feira, 15 de julho de 2009

Blues da piedade

Vamos pedir piedade, Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde


Senhor, piedade pra essa gente que não consegue enxergar o outro. Que não sai da própria miséria. Que esquece de olhar pra cima, pros lados, ao invés de olhar só pro seu umbigo. Ou, pior, aquela gente que não olha no espelho.
Piedade para os incapazes de compreender, de perdoar, de viver em paz. Piedade aos incapazes para a paz.
Tenho pena dos que se julgam injustiçados, dos que se entrincheiram no sofrimento, na auto-indulgência e na crítica severa. Lamento pelos que não conseguem olhar com o olhar do outro, partilhar sua experiência, dar as mãos, encostar as vidas.
Piedade para aqueles que nem diante da perda perdem a soberba e a estupidez e permanecem lá, impávidos e impassíveis, estátuas de gelo, sal e amargura, eternamente apartados do sentimento alheio. Piedade para os inconscientes da solidão humana - todo homem é uma ilha, todo mundo mente, o homem nasce como morre: só.
Piedade para os mais sozinhos que os solitários, os encarcerados da própria verdade, os insensíveis, os idiotas, os grosseiros, os estúpidos, os fracos, os acossados pela pura babaquice, os que nem sabem que sofrem tanto por não se permitirem tocar pelo alívio da normalidade, da humanidade e do bem-estar.
Senhor, piedade para esses covardes, os que se auto-flagelam, os que um dia ainda vão acertar contas consigo mesmos, os que negam o consolo diante da morte, os que não vêem que a sua própria morte um dia vai chegar.
E então, quem estará lá além da sua besta interior?

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