terça-feira, 23 de junho de 2009

Another day in paradise

Apesar de acontecer num horário bem esdrúxulo, minha sesta não tem me impedido de dormir à noite. Não maculou as adoráveis sete horas seguidas que dormi de sexta pra sábado, um evento que há muito não acontecia. Mas ontem, nem a pobrezinha da sesta ocorreu da maneira que eu esperava.
Já estava cansada do dia inteiro e achei então que um soninho viria bem... doce ilusão. Dormi pouco, e mal. E acordei mais desconfortável ainda. Pelo menos não sofro de tédio: sempre tenho o que fazer em casa. E um dos livros que eu mais queria ler estava me esperando na cama: Dewey (o gato, não as tabelas - se bem que talvez elas me fizessem dormir!)
Depois do banho, depois do ritual de beleza que adquiri há pouco, depois de todos os cremes, loções, remedinhos e que-tais, abri o Dewey. Tentei fechá-lo lá pela uma da manhã, mas preferi voltar a abrir o livro ao invés de ficar fritando na cama. E assim fui, até as quatro da manhã, até a página 120, quando a autora descobre mais um problema grave de saúde que a obriga a fazer uma mastectomia dupla. E, como era de se esperar, Dewey estava lá com ela.
E foi então que aconteceu.
Meu rosto se contraiu todinho enquanto os olhos marejavam e lágrimas mornas escorriam em silêncio. Não era o meu (já tradicional) choro desesperado, convulsivo, quase histérico, mais grito do que choro. Também não era o (ultimamente bem comum) choro automático, de lágrimas que pulam dos olhos como presos se libertando.
Era o choro do cansaço.
Cansaço do dia todo e da vida. Cansaço da cólica, da dor de cabeça, da dor de estômago que os próprios analgésicos estavam criando, do desconforto, da solidão. Senti-me sozinha e senti falta do toque de alguém - o toque que Dewey deu, que meus gatos me davam, que só os gatos sabem dar e que tanto me faz falta.
De repente eu estava lá. Não tinha feito nenhuma cirurgia, mas tinha cicatrizes. De repente, todos os adjetivos desabaram. Caíram sobre mim o vício, o alcoolismo. A bobeira, a mentira... terminando com o cinismo, a hipocrisia sonsa, o discurso religioso, o fato de ser "do bem" como um demérito.
E então ficou tudo escuro. Mas já era tarde: a manhã se insinuava, lenta e clara, pela fresta da cortina. Mais um dia no país dos insones solitários na metrópole se anunciando.

Um comentário:

Anelise Molina disse...

... mais uma pérola...