sábado, 28 de novembro de 2009

Wake

Existe um certo prazer na imobilidade. A certeza de que o mundo não pára lá fora enquanto a gente, calma e meticulosamente, percorre conscientemente cada centímetro de contato entre a pele e os lençóis. A pele e os travesseiros. A pele e a brisa do ventilador. A pele e a luz e os olhos fechados. Os cheiros, os sons, os mini-sons no quase silêncio.
As pernas quase estendidas. A cabeça relaxada, descansando. Cabelos soltos, emoldurados pela fronha. Braços que abraçam a maciez, acolhem o cheiro, permitem o aconchego, assinalam o descompromisso. Nada se more do lado de dentro. Nada se move do lado de fora. A consciência é o corpo, frouxo, calmo, repousando.
O sono é quase paz. Profundo, longo e solitário. Uma trégua com o mundo, até que os sonhos despertem o corpo para a urgência da vida.

domingo, 22 de novembro de 2009

Sexual

Pois li "A vida sexual de Catherine M.".
Salvo engano meu, ela tenta expressar uma coerência que não existe. Acho que seria mais fácil, mais honesto e menos confuso simplesmente dizer "fi-lo porque qui-lo", e pronto.
Mas isso não diminui a escrita, muito boa por sinal. Nem tira o mérito de alguns trechos excelentes, como esse:
"Há suavidade nesses momentos em que o vazio à nossa volta libera não apenas o espaço mas também, quem sabe, a imensidão do tempo futuro".

sábado, 21 de novembro de 2009

Deixando o pago

Pois chorei na saída, já saudosa de tudo que vivi. E adiei a escrita, forçando a memória. Mas pronto, muito evanesceu e cá estou, yo y la voz de mis pensamientos, perdida de novo na Guanabara. Waiting for the miracle to come. Ou pela próxima galarinice dos dados.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Fear

Medo é o horóscopo:

A complexidade do panorama com que sua alma deve lidar atualmente não pode ser superada
com regras simplistas. Melhor começar aceitando as limitações próprias para só depois iniciar humildemente a atitude eficiente.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Comida

E eu nem gosto do David Coimbra, mas essa eu adorei. Saiu na ZH de hoje... ou ontem. Sorry. Meus dias estão meio desencontrados aqui em POA.

O feijão mexido es-pe-ta-cu-lar

Alguém algum dia descobriu um feijão mexido es-pe-ta-cu-lar num bar ali na Floresta. Delicioso feijão mexido, sim, mas o importante nem era isso. O importante é que era barato. Formávamos uma turma de duros. Um ganhava um salário mínimo, o outro um e meio, o terceiro dois. E deu. No máximo, dois.
Aquele feijão mexido era o seguinte: custava em dinheiro de hoje uns três reais. Três reais, cara! Então, quando tudo parecia perdido e a fome estrangulava nossos estomaguinhos, íamos passear na Floresta. O feijão mexido aterrissava fumegante na mesa, bem temperado com nacos de linguicinhas de porco da espessura de um minguinho, e aí a gente espargia um fio de azeite de oliva em cima e salpicava de molho de pimenta, ah...
Mas o melhor de tudo era o ovo. Preciso muito falar sobre aquele ovo. Um ovo assim:
O ovo perfeito.
Frito, evidentemente. Mas não qualquer ovo frito. O ovo frito perfeito.
Acho engraçado quando as pessoas se referem a alguém que não sabe cozinhar como alguém que não sabe sequer fritar um ovo. Fritar um ovo não é para amadores. Em primeiro lugar, há que se desenvolver a ciência de quebrar a casca do ovo sem lesionar a gema. Faz-se necessário um golpe seco, determinado, mas nunca violento. A casca deve se romper em definitivo, sem rachaduras, mas a membrana da gema, essa película tão meiga, não pode ser atingida. Tente fazer isso em casa, e verá como é difícil.
Antes, porém, de a casca ser fraturada, o óleo ou a manteiga devem estar fervendo na frigideira. Eis outra sutileza de ourives: o óleo tem de estar fervendo, sim, mas não queimando. Preste atenção: não pode queimar!
O passo seguinte é deitar languidamente o ovo na frigideira quente, com a gema para cima. Mais uma vez, o cozinheiro há de ser duro sem perder a ternura. O ovo despido da casca, fragilizado, exposto, ele e sua instável clara, ele e sua suscetível gema, esse ovo deve ser tratado como uma mulher que o amante já beijou na boca, já acariciou-lhe todo o corpo tenro, já ergueu-a nos braços e a conduziu, feito uma noiva, em direção ao leito do amor. Essa mulher e esse ovo esperam ser estendidos docemente em seu destino, ela sobre os lençóis macios, ele sobre o chão cálido da frigideira, e, se este gesto for feito com desenvoltura, ambos se abrirão para o seu dono, para o seu conquistador, para o seu cozinheiro, a mulher ainda arfante na expectativa do pecado, a gema ainda intacta à espera do calor da fritura.
Encerrado o trabalho?
Nada disso!
O tempo de fritura exige precisão de física nuclear. Porque a gema, necessita-se dela mole como a defesa do Inter, e a clara sólida, mas não seca. As bordas, por outro lado... ah, eis a arte!, as bordas hão de ficar crocantes e douradas, só que nunca, nunca!, torradas.
Por fim, que haja critério com a pitada de sal. Sal em demasia pode arruinar um ovo frito. Tenha comedimento, tenha parcimônia. Mas não ouse economizar, ou o ovo restará insosso como uma segunda-feira na rodoviária de Araranguá.
Aquele ovo frito que reinava sobre o cômoro de feijão mexido no restaurante da Floresta era um ovo perfeito, e mais do que isso: um ovo infalivelmente perfeito. Sempre saía como tinha de sair, com suas bordas douradas, sua clara sólida, sua gema mole, com o sal na medida exata. Como o cozinheiro sempre conseguia? Como é que ele jamais errava? Nem um único ovo frito que saía de sua cozinha falhava. Como isso? Um mistério.
Bem.
Um dia, conhecemos o cozinheiro. Por algum motivo, ele saiu da cozinha e o garçom o apontou para nós:
– É ele!
Não resistimos. Chamamos o homem. Era um sujeito de altura mediana, careca, meio gordinho, de passo lento e olhar enfarado. Aproximou-se relutante, vestido com avental branco e tênis Motoca. Perguntei, ansioso:
– Por favor, me diz: como é que se faz aquele ovo frito perfeito? Como???
Ele atirou um sorriso desanimado na toalha da mesa e deu uma resposta que foi uma resposta de um Adriano Imperador, de um Fred, de um Gordo Ronaldo, de um Nilmar, de um desses centroavantes que, como autênticos centroavantes, estão decidindo o campeonato com sua presença ou com sua ausência. Disse assim:
– Eu sei fazer.
E girou dentro daqueles tênis Motoca. E arrastou seu desalento de volta para o recôndito da cozinha.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Language is a virus

Enquanto que o sábado foi de meninas felizes e reluzentes, amanhecendo no domingo pro dia nascer feliz... o domingo foi de contrariedade.
Já dizia Barthes: "Toda recusa de linguagem é uma morte". Foi exatamente o que aconteceu, um ápice de recusas de linguagem, de entendimentos, de proximidades.
Pena. Ao mesmo tempo que um arrependimento bateu, é importante que as coisas sigam seu ciclo de começo-meio-fim. E rápido.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Love to hate you

Copiei do Terra.

10 coisas que homens fazem e irritam as mulheres, por Claudio Pucci

O mais ferino e ácido dos jornalistas americanos, H. L. Mencken, disse que a completa masculinidade e a completa estupidez são, geralmente, indistinguíveis. (NÃO DIGA!) Se você perguntar para as moçoilas por aí, elas vão dizer o mesmo. (Hum, acho que me adiantei) Porque nós machos, carregamos no nosso DNA certas atitudes que mulher nenhuma vai compreender totalmente e assim partimos para o campo para saber delas quais são aqueles atos tão normais para a gente que deixariam até uma Madre Tereza de cabeça-quente. E em nome da boa comunicação, explicamos porque fazemos isso.

1 - Total domínio do controle remoto: zapear freneticamentre entre os canais (especialmente no caso de TV a cabo) e não deixar a moça chegar perto desta importante ferramenta tem somente um objetivo, evitar que tenhamos que assistir filmes açucarados com a Jennifer Aniston ou Sandra Bulock. E, de quebra, ver se há algum compacto de jogo de futebol na programação.
(Nenhum problema com isso. Desde que na hora do House o controle fique perfeitamente parado na minha mão, pra mim tá ótimo)

2 - Buzinar para a gostosinha na calçada: até Jerry Seinfeld já zombou desta tradição masculina se perguntando se alguma moça vai entrar no carro do cara só porque ele relou a mão na buzina. Acontece que estamos apenas consagrando a presença feminina em nossas ruas, nada relacionado com a calça apertada ou a camisa decotada que a beldade está usando.
(Isso faz com que o meu já batido "benzadeus" mereça retornar)

3 - Não pedir informações quando está perdido: quem são nossos ídolos? James Bond, Indiana Jones, Rambo, entre outros. Você já viu eles pararem a cada 100 metros para perguntar onde é o covil do vilão ou onde está o templo sagrado de Koothrappali?
(É isso. Quem tem boca vai a Roma, quem tem XY morre de fome enquanto a festa rola)

4 - Xingar o amigo quando o encontra: isso vem da tradição das sociedades secretas em manter uma saudação tradicional para que um membro reconheça o outro. O que as meninas não entendem é que quando, por exemplo, questionamos a masculinidade do amigo ao cumprimentá-lo com impropérios, estamos justamente louvando sua virilidade.
(Adoro.)

5 - Usar cantadas baratas: nenhum ser do sexo feminino consegue enxergar o lirismo e a poesia de frases como "você come rato? Porque, para mim, é uma gatinha" ou "seu pai é fazendeiro? Porque você é um chuchuzinho". Pense no grau de criatividade que a pessoa tem que ter para soltar uma dessas. É praticamente sheakespiriano.
(Shakespeariana foi a volta que Shakespeare deu no túmulo com essa aberração adjetivada do nome dele. Filhinho: se não sabe escrever, não escreva. Tenta Fernando Pessoa, que é mais fácil. Drummond não, tem dois "m" e pode complicar o meio de campo. Agora, voltando à vaca fria: algum idiota ainda usa esse tipo de abordagem?)

6 - Não praticar atos de cavalheirismo: ué, vocês não queimaram sutiã, gritaram por direitos iguais, entraram para as forças armadas? Agora aguentem!
(Tá certo. As feministas que se lixem. Eu faço questão de um mínimo de gentileza.)

7 - Transformar uma gripe em uma tragédia grega: culpem nossas mães (representante máximo do público feminino) que nos mimavam e pageavam ao menor sinal de coriza e comprovaram que quanto mais longo o gemido e mais acabada a nossa expressão facial, melhor o tratamento.
(Tá certo pt. 2, a missão. Mas como diria o filósofo Baby Sauro, "não é a mamãe!". Para cuidados maternais, voltem para a casa da mãe, ora)

8 - Vestir-se de qualquer jeito no fim de semana: de segunda a sexta-feira somos obrigados a usar terno e gravata, mesmo que esteja 40 graus à sombra (enquanto para as moças a saia está liberada) e ainda parecer limpos e elegantes o tempo todo para impressionar o chefe, os clientes, os fornecedores e os funcionários. Obviamente que aos sábados e domingos, dias para relaxar, vamos querer usar aquela camiseta da eleição para governador de 1982 e um shorts que já foi azul.
(É vero. Solidarizo-me... mas exijo um mínimo de compostura. Que a camiseta seja de 86, pelo menos)

9 - Não colocar a roupa suja para lavar ou deixar a toalha molhada em cima da cama: isso é algo que nós não compreendemos, porque quando morávamos com nossas mães, as roupas podiam ser largadas em qualquer lugar que apareciam lavadas e passadas no armário. E a toalha voltava para o banheiro sozinha.
(Preciso repetir? Baby Sauro já dizia...)

10 - Sabemos rir de nós mesmos: tudo para nós é motivo de piada e brincadeiras, seja a derrota do time de coração, o vôo que atrasou, o fora que tomou e até mesmo os péssimos hábitos que ainda insistimos em manter. Isso não é bom?
(É. E eu invejo)

Is it a crime

It may come, it may come as some surprise
But I miss you
I could see through all of your lies
But still I miss you

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

My way

Sim, cinco e meia da manhã, eu revendo velhos escritos e jogando tarô.
E me assustando.

10 de Paus
Aprendendo a lidar com pressões
O 10 de Paus como arcano conselheiro sugere que você precisará se preparar para lidar com situações de estresse que geram cansaço e tédio, Luciana. Você precisará ser forte e paciente, a fim de esperar que a fase mais densa passe, mas caso não mantenha esta firmeza moral em mente poderá ser vítima de seu próprio desânimo e botar tudo a perder. Apenas relaxe e não leve as coisas tão a sério, pois elas terão o peso que você der para elas e você poderá terminar piorando aquilo que era apenas uma brisa, transformando-a num tufão! Há momentos em que o humor é a melhor saída, em que precisamos diminuir os problemas vendo o aspecto ridículo que há neles. Se você olhar com atenção, rirá de si e os entraves perderão poder.

Conselho: Tenha paciência e humor para lidar com o estresse.

Nessun dorma

E o brainstorm aqui tá firme e forte.

Trac-trac
Weltschmerz
Homeless
Flor da pele
Azia
Dor de cabeça
Cálculo?
Down em mim
...

Minha alma

Cinco da manhã. Eu de novo em crise insone. Inferno.
Mas como sabe doer essa coisa que a gente tem por dentro...
onde é que acabam as vísceras e começa a visceralidade?