terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Gato preto

Gato preto em meu caminho.
A silhueta curva e elegante se move,
va-ga-ro-sa-men-te
e mostra o peito branco enquanto se coça na quina mais próxima.
Olho brilha, corpo se encolhe
quando vê a mão chegando.
Mas basta o primeiro toque
e o gato preto se derrete

domingo, 13 de dezembro de 2009

Here comes the rain again

É, chove. Lá e cá.
E eu, nesta minha já costumeira falta de energia vital, nem saio da cama nem enfrento a água. Muito menos faço o que deveria: tentar tornar o lugar menos escancaradamente esperando uma invasão, alguém atrás dum corpo que abandonou a casa há muito tempo - porque de tudo, só falta o corpo. O abandono já está aqui, gritando em cada sapato fora do lugar, em cada canto vazio na geladeira, em cada peça de roupa que espera ir para o armário ou para uma sacola de caridade.
Nem de canetas convulsivas vive este espaço. Eu tento, mas elas caem, escorrem pelos dedos, recuam, escondem-se. O papel fica em branco. A tormenta está aqui dentro, mas não encontra a saída.
Antes da derrota definitiva, sobrou tempo para um último suspiro, ontem. Transcrevo:

Não sei falar.
Sinto-me pouco à vontade, sinto-me pouco eloquente, confusa, impertinente, inadequada. Pouco objetiva. Tomando o tempo alheio.
E se, há tempos atrás, a relação profissional terapeuta/paciente me parecia violenta, hoje em dia me parece mais dolorosa.
Porque o terapeuta está lá para servir de espelho, um rebatedor do som de nossa voz. Não é o terapeuta que opera, é nosso cérebro trabalhando o estímulo auditivo por ele mesmo fabricado. E o recorrer ao terapeuta é o atestado triste de que não temos rebatedores civis aos nossos queixumes.
Eu não tenho, mesmo.
Esse mundo é uma droga e obriga as pessoas a horários insanos, vidas estranhas, regras demais ou a ausência delas. E eu, de meu lado, deixei uma parte de mim em algum lugar sem chance de recuperação.
De momento, sinto-me cansada da ilusão. Do calor macio e fugaz das pequenas alegrias. Sinto-me doente da mais profunda solidão. Da falta total de compreensão de qualquer movimento, ou da falta disso. Sinto-me enganada.
Traída por falsas paixões, desenganada por encontros fortuitos, acabada por discursos cínicos, calada por porções infindáveis de comida: feio falar de boca cheia, sobra mais silência a se ocupar com besteirol, politicagem e sordidez.
Mas um dia ainda faço uma boa escolha. Parto pra

(e aqui a caneta falhou, caiu, rabiscou nada de útil, e caí numa mistura de choro cansado e sono abatendo)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Sábado de sol

Teve? Não vi nada.
Depois de treze horas de desmaio ininterrupto, acordei com um calor do cão, fome, sede, uma tristeza fdp e meu nariz como se fosse sobrevivente da Guerra do Saco de Aspirador de Pó. E eu sem um antialérgico em casa.
Além disso, a casa em volta está quase querendo me expulsar por negligência. Só a tv ainda interfere em meu favor, alegando que todo dia eu olho pra ela um pouquinho. Senti-me culpada e fui conversar com a máquina de lavar, e estragar um pouco mais as unhas já descascadas na pia de louça suja.
De resto, continuo espirrando a cada dez segundos. É um indicador forte de que um segundo round vai bem, agora de barriguinha cheia com um pacote de bolachinhas de torta de limão e um copo de Nescau com leite em pó. Não me acordem se não for pra dizer que a humanidade acabou.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Refrão de bolero

E o problema é só esse, Ana, é que a gente sai do restaurante remoendo tudo que ouviu a tarde inteira, e o choro que engoliu entre águas e vinhos tintos, e tudo que a gente pensou sobre o que já passou, e a conclusão definitiva: ninguém dessas vinte pessoas na mesa tem a menor noção do que se passa nesse triste e único coração.
É só isso, Ana: a vida só se dá pra quem se deu. E quem se dá, mais hora menos hora se depara com a vida se dando, a vida nua, crua, dura, chata, definitiva, implacável. A vida só se dá pra quem toma porrada.
A vida só se dá, Ana, pra quem aguenta ouvir numa mesa sobre uma história, sobre mil anos de história, e sobre herdeiros dessa história onde a gente já deveria se encaixar. A vida só de dá pra quem engole vinho tinto ao invés de engolir as lágrimas salgadas por não ser reconhecido, e lembra que tudo que anda bem não chama a atenção, e leva a indiferença como elogio, e ainda assim espera caninamente o dia em que um "que bacana" há de aparecer.
Ana, a vida só se dá pra quem se dá entre acordes de piano, um quarto de cauda tocado depois de salmões cortados com maestria, depois de aspargos bem feitos, de sushis montados e picanhas a 81 reais. Eu achava que era isso, pelo menos. Achava que a vida era algo vivido, sentido. Como quem sente acordes de um quarto de cauda enquanto curte os últimos goles do tinto do dia.
Mas com eles vêm umas certezas sombrias, de que nada adianta enquanto não se tiver um anestésico forte, um analgésico forte, ou uma ignorância basilar que nos prenda na felicidade suprema de tomar um sorvete sob o sol de Copacabana como se fosse a última coisa a fazer na face da terra.
A vida só lembra que se dá pra quem percorre um aterro inteiro num táxi, engolindo lágrimas e chuva, enquanto tudo que vem à memória evanesce num piscar de olhos - enquanto tudo que há sobre o que se sente desaparece, como tudo que é tátil, palpável, súbtil. A vida só se dá pra quem não pensa, não enxerga, não sente. A vida se dá, mas não pra quem pensa enquanto matuta o que vai escrever ou como vai tentar explicar pra quem a quilômetros está. Quem pensa, já não reproduz. Quem ouve, já não sente, não sabe.
A vida só se dá pra quem se deu.
Mas essa ordinária nunca acha que a gente se dá o suficiente.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Heart of glass

Chegou, chegou! Mal posso esperar para ler "The heart is a lonely hunter".

***

Aí a criatura vem aqui e posta um comentário anônimo lamentando um post aí debaixo. Respondo: não tenha pena, filho. Se tá com pena, é porque não me conhece. Ou não entendeu nada.

***
E tô, mais uma vez, com vontade de reclamar pra fábrica que não pôs em mim nem um pinguinho de disposição política. Toda vez que preciso fazer um teatrinho desses é um suplício. Não nasci pra ser puxa-saco.
Mas verdade seja dita: gostei da minha árvore de natal nova.
Só meu estômago, cansado da luta que é fazer de conta que se diverte enquanto do lado de fora a vida não presta (parafraseando Leo Jaime), é que não curtiu muito o festerê. Empadinhas, pernil, brie, sanduichinhos... e uma mesa de doces que eu só mexi pra montar um prato lindo pra fotografar. Tudo isso de bobagem e eu chego em casa com fome. Ou será que era enjoo?

Evil warning

Carpinejar, meu ídolo, me explicando e me entendendo. Agora sei porque amo House e tenho essa cara de bebezinho até os quase trinta.

O Humor do Fodido

O mau humor é o melhor antídoto que existe. Nada como tomar o café da manhã com uma mulher irritada, ser passageiro de um motorista que vive reclamando do trânsito, conversar com um carrancudo que destila ódio para a classe política. São companhias estimulantes, afrodisíacas. Além de tudo, bem informadas. O pessimista é uma enciclopédia vendida de porta em porta. O otimista é que não lê jornal.
O otimista é frouxo, repete as mesmas frases evasivas e genéricas como “precisa acreditar” ou “tenha esperança”. O pessimista é pessoal, persuasivo, abrirá seus segredos com desembaraço. O otimista rende somente auto-ajuda. O pessimista proporciona alta literatura.
Guardo deslumbramento auditivo diante das pessoas que não respondem tudo bem no cumprimento. Enchem as vogais para declarar "tudo péssimo". Puxo a cadeira mais próxima e me sento com reverência porque percebo que descobri um corajoso no mundo, que vai se confessar com absoluta sinceridade, que tem vida própria e casa alugada.
O azedume é a inteligência em estado bruto. Aplaudo a loquacidade da tristeza. Desespero quando não fala é fatal. Desespero que esperneia é manso. Nunca fui de brigar, por exemplo, mas de espernear. Queria ser segurado pelos colegas antes de apanhar. Minha honra fez teatro na escola.
O mau humor do outro me deixa eufórico. Recebo uma sensação de paz que encontrei uma vez, ao soltar folhas de livro inédito no Rio Sena, apesar de não ter estado em Paris.
Do veneno alheio, surgirá sabedoria, ensinamento, conselhos. Quase uma aula de ecologia sentimental.
Orgulho-me desse humor muito brasileiro, incomparável. Daquele cara que deu tudo errado e ainda está achando graça. Sofreu enchente, deslizamento, seca, foi corneado e não se entrega. Não fechará o negócio, a cara, a amizade. É o que não tem motivos para rir e está rindo. Seu riso é perigoso. Seu riso é ofensivo. Seu riso é o caráter do pulmão.
Não confio em sujeito com felicidade de sobra. Será avarento e indiferente. Quem tem esconde. Unicamente peço dinheiro emprestado ao amigo que já faliu. É um pré-requisito que não costuma falhar.
Eu me interesso pela falta de explicação da alegria. Viva o humor do fodido. É o único que sobrevive às tragédias. Não ficará traumatizado, arrumará uma piada no acidente. Não ficará encastelado no quarto, pagará uma rodada ao pessoal do balcão.
A desgraça o torna generoso. Repentinamente natalino.
Meus grandes amigos estão cansados de recados, cada dia é um ultimato. Odeiam quando a atendente pergunta de onde são. Têm rancor por essa mania de rodoviária que atinge a maior parte das secretárias.
Meus grandes amigos são mórbidos. Compraram o jazigo na juventude. Os que pensam na morte cedo demoram a morrer. Preparam-se com tanta antecedência que perdem a hora.
A maldade preserva e o bem só traz rugas.
Posso garantir, todo santo estava acabado aos 40 anos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Vou de táxi

Entro apressada no táxi, cumprimento o motorista, digo meu destino enquanto ele não diz uma palavra.
E meu olho pára no taxímetro em bandeira dois, às sete da noite.
"Bandeira dois?? Por quê?", perguntei, sem a menor hostilidade, só querendo saber mesmo.
"Porque a senhora se informe. Em dezembro é bandeira dois."
Engoli a malcriação do sujeito e fiquei quieta. Lembrei do meu horóscopo do dia, que dizia para aguardar que o momento certo chegaria com a certeza do que fazer.
Então ele falou de novo.
"A senhora não é daqui do Rio?"
"Não, mas já moro aqui tem quatro anos."
"Tem uma lei, não sei se é municipal ou nacional..."
Cortei: "MAS COM CERTEZA nacional não é."
"Bom. Então tem uma lei municipal que o prefeito assina todo ano que diz que os táxis usam bandeira 2 em dezembro."
Eis o momento certo. Respondi, seca: "É bom saber pra não usar mais táxi, não é?"
Ele calou-se para todo o sempre.

E a título de curiosidade: a tal "lei municipal" é uma resolução da Secretaria Municipal de Transportes.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Like a tattoo

Já sei, já puxaram minhas orelhas sobre meu peculiar romantismo fim-de-século (pra não usar o termo exato - pessimismo). Até porque não concordo com isso: só acho que é uma maneira menos poliana de ver a vida, mais pé no chão, com menos expectativas e tentando se frustrar menos.
Encontro alguns parceiros nesse Weltschmerz-way-of-life no meio do percurso. Caio F., apesar do desencontro temporal, me parece sempre como um irmão, uma alma gêmea, um perdido nessa selva de concreto e humanidade como eu. Lendo agora sua "biografia", escrita pela amiga Paula Dip, sinto-me mais próxima dele, que foi muito mais desapegado do que eu, muito mais capaz de se aproximar da miséria, e talvez muito mais humano. Mas não adianta: Weltschmerz uma vez, para sempre Weltschmerz. E parece que em breve I'll wear it like a tattoo.
Por enquanto, fico com este trecho duma carta do Caio. Tão singular e tão universal.
"Querida mãe, querido pai: não sei mais conviver com as pessoas. [...] Tenho vivido tão só durante tantos - quase 40 - anos. Devo estar acostumado... Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como 'eu gosto de você'. Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, eu sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida - como quem olha de uma janela - mas não consegue vivê-la".

sábado, 28 de novembro de 2009

Wake

Existe um certo prazer na imobilidade. A certeza de que o mundo não pára lá fora enquanto a gente, calma e meticulosamente, percorre conscientemente cada centímetro de contato entre a pele e os lençóis. A pele e os travesseiros. A pele e a brisa do ventilador. A pele e a luz e os olhos fechados. Os cheiros, os sons, os mini-sons no quase silêncio.
As pernas quase estendidas. A cabeça relaxada, descansando. Cabelos soltos, emoldurados pela fronha. Braços que abraçam a maciez, acolhem o cheiro, permitem o aconchego, assinalam o descompromisso. Nada se more do lado de dentro. Nada se move do lado de fora. A consciência é o corpo, frouxo, calmo, repousando.
O sono é quase paz. Profundo, longo e solitário. Uma trégua com o mundo, até que os sonhos despertem o corpo para a urgência da vida.

domingo, 22 de novembro de 2009

Sexual

Pois li "A vida sexual de Catherine M.".
Salvo engano meu, ela tenta expressar uma coerência que não existe. Acho que seria mais fácil, mais honesto e menos confuso simplesmente dizer "fi-lo porque qui-lo", e pronto.
Mas isso não diminui a escrita, muito boa por sinal. Nem tira o mérito de alguns trechos excelentes, como esse:
"Há suavidade nesses momentos em que o vazio à nossa volta libera não apenas o espaço mas também, quem sabe, a imensidão do tempo futuro".

sábado, 21 de novembro de 2009

Deixando o pago

Pois chorei na saída, já saudosa de tudo que vivi. E adiei a escrita, forçando a memória. Mas pronto, muito evanesceu e cá estou, yo y la voz de mis pensamientos, perdida de novo na Guanabara. Waiting for the miracle to come. Ou pela próxima galarinice dos dados.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Fear

Medo é o horóscopo:

A complexidade do panorama com que sua alma deve lidar atualmente não pode ser superada
com regras simplistas. Melhor começar aceitando as limitações próprias para só depois iniciar humildemente a atitude eficiente.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Comida

E eu nem gosto do David Coimbra, mas essa eu adorei. Saiu na ZH de hoje... ou ontem. Sorry. Meus dias estão meio desencontrados aqui em POA.

O feijão mexido es-pe-ta-cu-lar

Alguém algum dia descobriu um feijão mexido es-pe-ta-cu-lar num bar ali na Floresta. Delicioso feijão mexido, sim, mas o importante nem era isso. O importante é que era barato. Formávamos uma turma de duros. Um ganhava um salário mínimo, o outro um e meio, o terceiro dois. E deu. No máximo, dois.
Aquele feijão mexido era o seguinte: custava em dinheiro de hoje uns três reais. Três reais, cara! Então, quando tudo parecia perdido e a fome estrangulava nossos estomaguinhos, íamos passear na Floresta. O feijão mexido aterrissava fumegante na mesa, bem temperado com nacos de linguicinhas de porco da espessura de um minguinho, e aí a gente espargia um fio de azeite de oliva em cima e salpicava de molho de pimenta, ah...
Mas o melhor de tudo era o ovo. Preciso muito falar sobre aquele ovo. Um ovo assim:
O ovo perfeito.
Frito, evidentemente. Mas não qualquer ovo frito. O ovo frito perfeito.
Acho engraçado quando as pessoas se referem a alguém que não sabe cozinhar como alguém que não sabe sequer fritar um ovo. Fritar um ovo não é para amadores. Em primeiro lugar, há que se desenvolver a ciência de quebrar a casca do ovo sem lesionar a gema. Faz-se necessário um golpe seco, determinado, mas nunca violento. A casca deve se romper em definitivo, sem rachaduras, mas a membrana da gema, essa película tão meiga, não pode ser atingida. Tente fazer isso em casa, e verá como é difícil.
Antes, porém, de a casca ser fraturada, o óleo ou a manteiga devem estar fervendo na frigideira. Eis outra sutileza de ourives: o óleo tem de estar fervendo, sim, mas não queimando. Preste atenção: não pode queimar!
O passo seguinte é deitar languidamente o ovo na frigideira quente, com a gema para cima. Mais uma vez, o cozinheiro há de ser duro sem perder a ternura. O ovo despido da casca, fragilizado, exposto, ele e sua instável clara, ele e sua suscetível gema, esse ovo deve ser tratado como uma mulher que o amante já beijou na boca, já acariciou-lhe todo o corpo tenro, já ergueu-a nos braços e a conduziu, feito uma noiva, em direção ao leito do amor. Essa mulher e esse ovo esperam ser estendidos docemente em seu destino, ela sobre os lençóis macios, ele sobre o chão cálido da frigideira, e, se este gesto for feito com desenvoltura, ambos se abrirão para o seu dono, para o seu conquistador, para o seu cozinheiro, a mulher ainda arfante na expectativa do pecado, a gema ainda intacta à espera do calor da fritura.
Encerrado o trabalho?
Nada disso!
O tempo de fritura exige precisão de física nuclear. Porque a gema, necessita-se dela mole como a defesa do Inter, e a clara sólida, mas não seca. As bordas, por outro lado... ah, eis a arte!, as bordas hão de ficar crocantes e douradas, só que nunca, nunca!, torradas.
Por fim, que haja critério com a pitada de sal. Sal em demasia pode arruinar um ovo frito. Tenha comedimento, tenha parcimônia. Mas não ouse economizar, ou o ovo restará insosso como uma segunda-feira na rodoviária de Araranguá.
Aquele ovo frito que reinava sobre o cômoro de feijão mexido no restaurante da Floresta era um ovo perfeito, e mais do que isso: um ovo infalivelmente perfeito. Sempre saía como tinha de sair, com suas bordas douradas, sua clara sólida, sua gema mole, com o sal na medida exata. Como o cozinheiro sempre conseguia? Como é que ele jamais errava? Nem um único ovo frito que saía de sua cozinha falhava. Como isso? Um mistério.
Bem.
Um dia, conhecemos o cozinheiro. Por algum motivo, ele saiu da cozinha e o garçom o apontou para nós:
– É ele!
Não resistimos. Chamamos o homem. Era um sujeito de altura mediana, careca, meio gordinho, de passo lento e olhar enfarado. Aproximou-se relutante, vestido com avental branco e tênis Motoca. Perguntei, ansioso:
– Por favor, me diz: como é que se faz aquele ovo frito perfeito? Como???
Ele atirou um sorriso desanimado na toalha da mesa e deu uma resposta que foi uma resposta de um Adriano Imperador, de um Fred, de um Gordo Ronaldo, de um Nilmar, de um desses centroavantes que, como autênticos centroavantes, estão decidindo o campeonato com sua presença ou com sua ausência. Disse assim:
– Eu sei fazer.
E girou dentro daqueles tênis Motoca. E arrastou seu desalento de volta para o recôndito da cozinha.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Language is a virus

Enquanto que o sábado foi de meninas felizes e reluzentes, amanhecendo no domingo pro dia nascer feliz... o domingo foi de contrariedade.
Já dizia Barthes: "Toda recusa de linguagem é uma morte". Foi exatamente o que aconteceu, um ápice de recusas de linguagem, de entendimentos, de proximidades.
Pena. Ao mesmo tempo que um arrependimento bateu, é importante que as coisas sigam seu ciclo de começo-meio-fim. E rápido.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Love to hate you

Copiei do Terra.

10 coisas que homens fazem e irritam as mulheres, por Claudio Pucci

O mais ferino e ácido dos jornalistas americanos, H. L. Mencken, disse que a completa masculinidade e a completa estupidez são, geralmente, indistinguíveis. (NÃO DIGA!) Se você perguntar para as moçoilas por aí, elas vão dizer o mesmo. (Hum, acho que me adiantei) Porque nós machos, carregamos no nosso DNA certas atitudes que mulher nenhuma vai compreender totalmente e assim partimos para o campo para saber delas quais são aqueles atos tão normais para a gente que deixariam até uma Madre Tereza de cabeça-quente. E em nome da boa comunicação, explicamos porque fazemos isso.

1 - Total domínio do controle remoto: zapear freneticamentre entre os canais (especialmente no caso de TV a cabo) e não deixar a moça chegar perto desta importante ferramenta tem somente um objetivo, evitar que tenhamos que assistir filmes açucarados com a Jennifer Aniston ou Sandra Bulock. E, de quebra, ver se há algum compacto de jogo de futebol na programação.
(Nenhum problema com isso. Desde que na hora do House o controle fique perfeitamente parado na minha mão, pra mim tá ótimo)

2 - Buzinar para a gostosinha na calçada: até Jerry Seinfeld já zombou desta tradição masculina se perguntando se alguma moça vai entrar no carro do cara só porque ele relou a mão na buzina. Acontece que estamos apenas consagrando a presença feminina em nossas ruas, nada relacionado com a calça apertada ou a camisa decotada que a beldade está usando.
(Isso faz com que o meu já batido "benzadeus" mereça retornar)

3 - Não pedir informações quando está perdido: quem são nossos ídolos? James Bond, Indiana Jones, Rambo, entre outros. Você já viu eles pararem a cada 100 metros para perguntar onde é o covil do vilão ou onde está o templo sagrado de Koothrappali?
(É isso. Quem tem boca vai a Roma, quem tem XY morre de fome enquanto a festa rola)

4 - Xingar o amigo quando o encontra: isso vem da tradição das sociedades secretas em manter uma saudação tradicional para que um membro reconheça o outro. O que as meninas não entendem é que quando, por exemplo, questionamos a masculinidade do amigo ao cumprimentá-lo com impropérios, estamos justamente louvando sua virilidade.
(Adoro.)

5 - Usar cantadas baratas: nenhum ser do sexo feminino consegue enxergar o lirismo e a poesia de frases como "você come rato? Porque, para mim, é uma gatinha" ou "seu pai é fazendeiro? Porque você é um chuchuzinho". Pense no grau de criatividade que a pessoa tem que ter para soltar uma dessas. É praticamente sheakespiriano.
(Shakespeariana foi a volta que Shakespeare deu no túmulo com essa aberração adjetivada do nome dele. Filhinho: se não sabe escrever, não escreva. Tenta Fernando Pessoa, que é mais fácil. Drummond não, tem dois "m" e pode complicar o meio de campo. Agora, voltando à vaca fria: algum idiota ainda usa esse tipo de abordagem?)

6 - Não praticar atos de cavalheirismo: ué, vocês não queimaram sutiã, gritaram por direitos iguais, entraram para as forças armadas? Agora aguentem!
(Tá certo. As feministas que se lixem. Eu faço questão de um mínimo de gentileza.)

7 - Transformar uma gripe em uma tragédia grega: culpem nossas mães (representante máximo do público feminino) que nos mimavam e pageavam ao menor sinal de coriza e comprovaram que quanto mais longo o gemido e mais acabada a nossa expressão facial, melhor o tratamento.
(Tá certo pt. 2, a missão. Mas como diria o filósofo Baby Sauro, "não é a mamãe!". Para cuidados maternais, voltem para a casa da mãe, ora)

8 - Vestir-se de qualquer jeito no fim de semana: de segunda a sexta-feira somos obrigados a usar terno e gravata, mesmo que esteja 40 graus à sombra (enquanto para as moças a saia está liberada) e ainda parecer limpos e elegantes o tempo todo para impressionar o chefe, os clientes, os fornecedores e os funcionários. Obviamente que aos sábados e domingos, dias para relaxar, vamos querer usar aquela camiseta da eleição para governador de 1982 e um shorts que já foi azul.
(É vero. Solidarizo-me... mas exijo um mínimo de compostura. Que a camiseta seja de 86, pelo menos)

9 - Não colocar a roupa suja para lavar ou deixar a toalha molhada em cima da cama: isso é algo que nós não compreendemos, porque quando morávamos com nossas mães, as roupas podiam ser largadas em qualquer lugar que apareciam lavadas e passadas no armário. E a toalha voltava para o banheiro sozinha.
(Preciso repetir? Baby Sauro já dizia...)

10 - Sabemos rir de nós mesmos: tudo para nós é motivo de piada e brincadeiras, seja a derrota do time de coração, o vôo que atrasou, o fora que tomou e até mesmo os péssimos hábitos que ainda insistimos em manter. Isso não é bom?
(É. E eu invejo)

Is it a crime

It may come, it may come as some surprise
But I miss you
I could see through all of your lies
But still I miss you

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

My way

Sim, cinco e meia da manhã, eu revendo velhos escritos e jogando tarô.
E me assustando.

10 de Paus
Aprendendo a lidar com pressões
O 10 de Paus como arcano conselheiro sugere que você precisará se preparar para lidar com situações de estresse que geram cansaço e tédio, Luciana. Você precisará ser forte e paciente, a fim de esperar que a fase mais densa passe, mas caso não mantenha esta firmeza moral em mente poderá ser vítima de seu próprio desânimo e botar tudo a perder. Apenas relaxe e não leve as coisas tão a sério, pois elas terão o peso que você der para elas e você poderá terminar piorando aquilo que era apenas uma brisa, transformando-a num tufão! Há momentos em que o humor é a melhor saída, em que precisamos diminuir os problemas vendo o aspecto ridículo que há neles. Se você olhar com atenção, rirá de si e os entraves perderão poder.

Conselho: Tenha paciência e humor para lidar com o estresse.

Nessun dorma

E o brainstorm aqui tá firme e forte.

Trac-trac
Weltschmerz
Homeless
Flor da pele
Azia
Dor de cabeça
Cálculo?
Down em mim
...

Minha alma

Cinco da manhã. Eu de novo em crise insone. Inferno.
Mas como sabe doer essa coisa que a gente tem por dentro...
onde é que acabam as vísceras e começa a visceralidade?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Socorro

Esse negócio está um marasmo, é bem verdade. Mas a cabeça está cheia e acabou de encher mais um pouco. Cabeça cheia, peso nos ombros, sentimento esquisito.
Uma das minhas séries favoritas terminou pra sempre. O bom e velho Plantão Médico, depois de quinze anos, acabou com três médicos do elenco do primeiro episódio participando do último. E com uma entrevista com grande parte do elenco, onde acho que tive uma ideia sobre por que é que eu gosto de séries médicas.
Elas falam de vida e de morte. Do inevitável. Das pequenas tragédias e das alegrias cotidianas. De tudo que qualquer um pode ver todos os dias.
Sei lá. Achei que ia ser mais emocionante, mas o grande glimpse da noite foi esse. Deu o que pensar.

domingo, 18 de outubro de 2009

Pa' bailar

Da série "quizzes do Facebook":

"Que personagem das novelas brasileiras representa você?": FLORA!

A mente mais perigosa está sempre sendo ocultada por uma carinha de anjo! Você é mesmo uma criatura disfarçada, hein? Inteligente e observadora, você estuda o ponto fraco das pessoas e sabe exatamente como puxar o tapete delas caso elas tentem atrapalhar seus planos. Você mente bem, enrola bem e manipula bem! Você é um gênio do crime! Não cutuquem essa onça com vara curta que, com certeza, ela não vai reagir com um "beijinho doce"...

Voltando ao pago

Mais uma da série "bem roubadinho"... dessa vez, foi da Kaleidoskope girl:

Desgarrado!
O flete do meu destino
se tornou um andarilho,
boleou-se fora dos trilhos
sem direção e sem rumo
e me trouxe junto pro mundo
me mostrando outra existência,
paragens, novas querências,
me viciando a ser andejo,
necessidade não é desejo,
é questão de sobrevivência.

Me desgarrei do Rio Grande
levando uma carreta de sonhos,
deixei lá tropa de desenganos,
apartei uma ponta de esperança,
ajoujei minhas lembranças,
repontei tudo e vim para cá
tentando me aquerenciar.
Mas não é fácil, a la pucha:
esquecer minha terra gaúcha,
pois meu coração ficou lá!

É tristeza pro gaúcho
viver longe do seu pago,
tem a sede de um afago,
alguma coisa lhe falta,
é sua alma que lhe salta,
desembesta e cabresteia,
é o desejo que ponteia
de um dia poder voltar,
pois cansou do seu andar,
saudade botou maneia.

Quando mateio solito,
o olhar perdido à distância,
montado na esperança
negaceio o meu destino,
e pra ganhar do teatino
atropelo o pensamento,
dou de luz no sentimento,
emparelho com a saudade
e ganho a felicidade
na carreirada do tempo.

Nos meus sonhos eu me engancho
no lombo do meu futuro,
é a vontade, pêlo duro,
que quer rever minha querência,
dou de rédea na paciência,
não fico mais pra estes lados;
saudoso, um caco e atirado,
largado pelas tabelas,
boto sebo nas canelas,
deixo de ser desgarrado.

Estou voltando pro meu pampa
Tapado de judiaria,
aquilo que mais queria
tornou-se realidade,
vou me apartar da saudade,
me estou orelhando com a sorte,
o sentimento é mais forte,
não vou esperar que me mande:
Eu volto para o Rio Grande,
nem que seja após a morte.

Smile

Domingo lindo e eu dando uma de ladrazinha internê afora.
Estas gracinhas vieram das Meninas Maldosas.

1. Como se chama um homem inteligente, sensível e bonito?
R.: Boato.

2. O que deve fazer uma mulher quando seu marido corre em zigue-zague pelo jardim?
R.: Continuar a atirar.

3. Por que os homens não têm período de crise na idade madura?
R.: Porque nunca saem da puberdade.

4. Qual é o ponto comum entre os homens que freqüentam bares para solteiros?
R.: Todos eles são casados.

5. Como um homem chama o amor verdadeiro?
R.: Ereção.

6. Por que as mulheres não querem mais se casar?
R.: Porque não é justo.. Imagine, por causa de 100 gramas de lingüiça ter que levar o porco inteiro.

7. Qual a semelhança entre o homem e o microondas?
R.: Aquecem em 15 segundos.

8. Qual a semelhança entre o homem e o caracol?
R.: Ambos têm chifres, babam e se arrastam. E ainda pensam que a casa é deles.

9. Por que não existe um homem inteligente, sensível e bonito ao mesmo tempo?
R.: Porque seria mulher.

10. Quando um homem mostra que tem planos para o futuro?
R...: Quando ele compra 2 caixas de cerveja.

11. Por que mulheres casadas são mais gordas do que as solteiras?
R.: A solteira chega em casa, vê o que tem na geladeira e vai pra cama, a casada vê o que tem na cama e vai pra geladeira.

12. Como se chama uma mulher que sabe onde seu marido está todas as noites?
R.: Viúva.

13. O que disse Deus depois de criar o homem?
R..: Tenho que ser capaz de fazer coisa melhor.

14. O que disse Deus depois de criar a mulher?
R.: A prática traz a perfeição...

sábado, 17 de outubro de 2009

The blower´s daughter

Viciei nos quizzes bobinhos do Facebook. O mais legal de hoje foi "Que personagem inesquecível do cinema representa você?" e orgulhosamente fui... Alice Ayres. Natalie Portman, uma das minhas atrizes favoritas, no Closer:
O amor e suas complicações. Fazer parte de um quadrilátero amoroso não deve ser nada fácil, ainda mais quando se é jovem... num país estrangeiro, certo? Errado! As pessoas mais sensíveis podem ser as mais fortes. É preciso coragem pra chorar, pra demonstrar dúvidas e sentimentos, pra dizer "Eu te amo" e até mesmo pra mentir. Alice Ayres é um personagem sensível, mas com uma força emocional muito grande. É o retrato das pessoas que não fogem dos seus sentimentos e que se tornam mais poderosas por estar em contato com eles! "I don't love you anymore.Good bye!".

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Beautiful day

Tirei dum site por aí. Vale a pena seguir.

How to have a lovely day in 10 easy steps.
1. Smile at strangers.
2. Slow down.
3. Say thank you.
4. Give lots of compliments.
5. Dress nicely.
6. Wear parfume.
7. Observe and listen.
8. Be charming.
9. Laugh.
10. Wish people a lovely day.

Aquele abraço

Era pra ser só um chopinho inocente na Praça XV, mas quando vi estava rumo à Vila Isabel pra assistir um ensaio de bateria. Sim, eu, de vestidinho, meia calça pink e sapato de boneca fui resoluta assistir ENSAIO DE ESCOLA DE SAMBA.
Quis Tutatis, entretanto, que ao chegar déssemos com o nariz na porta, todo mundo se encaminhando pra rua, afinal das contas tá pensando o que, isso aqui é um bairro de família e é quarta feira, amanhã é dia útil e as crianças precisam dormir.
Mas é claro que não íamos perder a viagem. Sentamos então num boteco esdrúxulo pra tomar uma cerveja e param pra conversar três meninas, amigas dos meus acompanhantes. Uma delas tinha um filhinho, uns seis anos.
Eu mal estava prestando atenção no guri. Sei que de repente me vi quase sufocada: ele deu a volta correndo na mesa, ignorou metade das pessoas e veio direto em cima de mim, me agarrou pelo pescoço e me deu o abraço mais gostoso EVER. Senti-me abastecida de carinho por um bom tempo...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Menstruada

Meninos, se não quiserem não leiam. Ou então, assumam seus papéis de maridos, namorados, amantes, pais, irmãos, seres humanos que tem mulheres por perto.
Sim, eu faço parte dos 75% da população feminina que sofre de TPM. E compreendam: é um sofrimento medonho. Ninguém tem TPM porque quer. É insuportável ficar irritada, ansiosa, ou triste, ou chorona, ou qualquer coisa fora de nosso controle sem nenhum motivo aparente. É um saco se sentir pesada, inchada, desconfortável - isso quando a coisa é leve.
Na adolescência, tive crises tão severas que quase desmaiava na rua. Cólicas horríveis, suores, tremores, dor de cabeça, enjoo. O advento da pílula, além de dar uma melhorada boa na hemorragia, apazigou a guerra. Mas não pra sempre.
Voltei a ter sintomas pra lá de desagradáveis, até chegar ao cúmulo de simplesmente não conseguir sair da cama tamanha a dor de cabeça que um simples abrir de cortinas disparava. Fora o mau humor e a consciência de que nenhum ser vivo merece ter uma nuvem negra por perto.
Mas aí existem soluções. E uma delas não é a mega blaster da estética, mas resolveu meu problema este mês: adesivo anticoncepcional. Fica feio e no final da semana já está cheio de fiapinhos de roupa, mas só a graça de conseguir sair na rua sem se sentir agulhada no cérebro já é uma bênção. Fora que parar de entupir o fígado de hormônio é uma dentro. E também tem a vantagem de só ter de pensar nisso uma vez por semana. Meninas: procurem, se informem. Meninos: sugiram.

My grandfather´s clock

Meu avozinho faz 85 anos hoje.
Ele repete sempre as mesmas piadas e os mesmos discursos quando fala comigo. Comenta em alemão que o Rio é bonito como o paraíso, reproduzindo o diário dum capitão alemão que desembarcou na Baía no séc. XVIII. Conta de quando veio para cá, como tudo era diferente. Nos aniversários, inverte os números da idade para dizer que está novo. Hoje, por exemplo, ele fez 58 com muito entusiasmo pela vida.
Boa tática, essa, de se dizer entusiasmado quando se está de saco cheio, se tem dores o tempo todo, não se consegue mais compartilhar porque a surdez quase não deixa.
Mas ainda sobra espaço para lembrar-me de que o doutorado é importante, que os amores podem esperar, e que vou achar francês muito fácil, afinal é muito próximo do latim, e que pena que há muitos anos ele não lê nem fala mais francês, mas quando ele tinha 18 e estava no seminário falava fluentemente com os irmãos lassalistas.
Sim, ele é uma figura. E quase chora quando a gente liga, mesmo sabendo que ninguém é capaz de esquecer do aniversário dele e que 12 de outubro é o dia da criança e de ligar para o seu Lino - ele que não esquece um aniversário nunca, e que fica ansioso ao acordar no dia do aniversário dos outros, para ligar normalmente às sete ou oito da manhã.

Shampoo

Esta sou eu hoje, depois de experimentar a linha OX:



Galarina endorses. Além de serem bons produtos, não são testados em animais!

Book of days

Artigo fino, bom e bem escrito, sobre o futuro do livro. Aqui.

sábado, 10 de outubro de 2009

Mrs. Robinson

Pois a inveja foi tanta que não só aproveitei que o título era perfeitamente cabível aqui como linkei - porque inveja sim, mas despeito não e o crédito é todo dela, a professora. Que história e que estilo. Virou favorita. Não percam, aqui.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sweet child o'mine

Hm, é, estou devendo comentários sobre o casamento mais heavy metal de toda a história.
Foi lindo, eu quase desidratei chorando, originalíssimo, e o pajem entrando com as alianças ao som de Sweet Child o'Mine foi demais pro meu pobre coraçãozinho.
Mas alguém podia ter me avisado que eu estava com blush demais numa bochecha.

Moving on up

Pois é, a vida anda, o Carter faz quinze anos de ER... o banco manda um cartão novo e o Smiles da gente vira prata.
Eu avisei que era a rainha da milhagem. E comparei a carinha dele, Noah Wyle, bebezinho na capa do DVD da primeira temporada com o Carter trintão na tevê...
(Enquanto escrevo, a notícia: semana que vem Doug Ross, o primeiro de muitos doutores lindos e gostosos que passaram pelo County, está de volta na semana que vem. Me esqueçam na quarta, por favor, porque George Clooney quinze anos antes ou depois, tanto faz, é bom de todo modo. Pensando melhor, de muitos não... lembro dele, do croata e agora o John Stamos...)

domingo, 4 de outubro de 2009

Head over feet

Crianças, não corram em lugares que vocês não conhecem. Senão correm o risco de errar o pé e quase se estabacar no chão. E mancar por sabe Belenos quanto tempo...
o que não faz a inveja do House.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Cidade maravilhosa

Ai meus sais...
enquanto todo mundo se diverte com o funk favela comendo solto em Copacabana, eu já estou pensando onde é que vou me enfiar em 2016... acho que vou acumular umas férias. Ou, como o Spuldar já deu a brilhante ideia, doutorado sanduíche.
Parabéns ao Lucas pelo vídeo da apresentação, que de fato estava muito legal - perto do de Tóquio, então, não deu nem pro cheiro. Mas só quem viveu o horror do Pan sabe a desgraça que vão ser 2014 e 2016... não quero nem ver. Eu já estou tendo um aperitivo porque preciso sair de casa agora pra ir pro aeroporto. Vou começar a recolher os palpites. Uma hora até o Santos Dumont?

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Destiny

Eu era a única pessoa sentada no café, esperando meus pãezinhos de queijo. Nos quatro minutos que a fornada ia levar pra sair, as outras mesas encheram. Fazia frio, chovia, e todo mundo só queria saber de uma bebida quente.
Aí entrou uma senhora, no seu uniforme de caminhada, e pediu um café. Olhou em volta e não havia lugares. Tirei minha bolsa do meio da mesa e ofereci o outro assento. Ela agradeceu, disse que preferia sentar antes de derrubar todo o café.
E começou a falar. Disse que estava muito bem, muito feliz, estava conseguindo manter o peso desde a morte do marido, e refeições, qualidade de vida, bla bla bla. Eu me esforçando pra ser simpática enquanto ela desfiava seu rosário de amenidades de senhora classe-média-bem-pra-alta-de-Copacabana. Até que ela conta que fez duas faculdades, que enquanto fazia o clássico alguém arrumou uma vaga pra ela na Biblioteconomia...
Arregalei os olhos.
JURA?
Pois foi, menina! Então, eu fiz o terceiro ano do clássico junto com a Biblioteconomia, e fui ser bibliotecária lá na Presidente Vargas. E fui aluna do Afrânio Coutinho! E bla bla bla.
Em quinze minutos ela praticamente me contou a vida toda. Descobri que ela foi só mais uma da pá virada que não resistiu ao tradicional sepulcro das salas de leitura, foi fazer relações internacionais, viajou muito, conheceu o mundo, casou depois de dez anos morando junto e agora, às portas dos setenta, está muito de bem com a vida, obrigada. Mora no lugar de maior bochicho da Zona Sul - a duas quadras da minha casa. Diz que é da turma da melhor idade e já entra em tudo que é lugar brandindo a identidade, pedindo seu desconto e rindo pra vida que é boa e que merece ser vivida numa boa. E saiu pra comprar cigarro, já que ela tenta, tenta mas não consegue parar.

As rosas não falam

E precisam?
Chego no trabalho hoje e descubro que é dia da secretária. Do secretário, justiça seja feita, até porque eu tenho um secretário.
Saio correndo pra comprar pelo menos umas flores.
E tenho a sorte de ter um florista top de linha ali, a 100 metros. Além de fazer um precinho bem camarada, os arranjos são do maior capricho. E eu consegui um buquê de rosas Greta e outro de rosas lilás. Já viram?
Pois ninguém tinha visto, e foi o maior frisson.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Fábrica

Vou me devolver pra minha mãe.
Senão, vejamos a lista dos "defeitos de fábrica" que mereceriam um recall deste corpitcho (e de vários outros, se é que me consola):
Um sesamóide medial bipartido. Um não, dois, porque embora só tenha examinado um pé, suponho que o outro também o seja. Pra que serve um sesamóide medial? Pra pouca coisa além de indicar o grau de calcificação da criatura. A título de curiosidade, a patela (ex-rótula) também é um osso sesamóide, o maior do corpo humano.
Um acrômio exuberante, ou ganchoso. Esse é, na verdade, o osso da ponta do ombro, que, por um erro de cálculo, é bastante propenso a pinçar a complicada estrutura de cinco feixes de músculos ou tendões que compõe o ombro. Aí dói, oshhhh se dói.
Uma dermatite atópica. Facilmente confundível com qualquer pereba por aí, brotoeja, alergia, sarna ou sujeira mesmo... mas segundo o brilhante dermatologista, "nós temos cinco tipos de imunoglobulinas. A do tipo E deveria chamar-se B, de burra, porque ela ataca o que não existe, e é isso que está acontecendo com você". E essa porcaria sabe incomodar. E ficar feia. E coçar demais, até virar hematoma.
Pelo menos descobri que meus cuidados diários estão surtindo efeito, e se em mais nada a genética me favoreceu, pelo menos me deu uma carinha fofa que vale elogio até do dermato. Ele perguntou minha idade. Eu respondi, "29". Ele olhou por cima dos óculos: "Tem certeza?"

***
E nada a ver com nada, mas se alguém quiser ver um bicho impressionante, procura aí: liger, ou ligre. É um híbrido, geralmente estéril, de leão com tigresa. Ao contrário do tigon, filhote de leoa com tigre, o liger não tem o marcador que freia o crescimento e vira um animal assustadoramente grande. Perto dele, papai e mamãe viram quase bibelôs.

domingo, 27 de setembro de 2009

Talk to me

Coisa mais chata é gente que não responde.
Em qualquer circunstância. MSN, Gtalk, na rua, por e-mail.
Sem querer ou deliberadamente, é um saco.

sábado, 26 de setembro de 2009

Vício

Cada vez mais difícil me tirar de casa.
Não bastasse o encontro diário com o Dr. House - e duplo, nas quintas - ainda temos ER quartas à noite. Tudo bem que o House eu ainda driblo porque, afinal das contas, nada que uma reprise não faça pela gente, seja na tevê mesmo ou no DVD. Mas o ER... temporada final... affe que dor perder um capítulo. O mesmo vai começar a acontecer com o House, temporada nova começando mês que vem. Me esqueçam.
Mas agora que eu estava praticamente curada do vício do Campo Minado e do Mahjong... vem meu irmão com os gamezinhos do Facebook. Ai céus.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Smack that

Para os infernos com a rinite que me inutilizou o dia todo.
A fartura desta casa era mais importante... "fartava" tudo. Até o papel higiênico para a maledeta não inundar a casa com coriza.
Fui pra rua. E gastei uma dinheirama comprando várias coisas de que precisava, mas não a que eu realmente queria.
Só no fim, na última parada, um sanduíche ao som de Smack That.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

For Emily, whenever I may find her

Não sou daquelas pessoas que vão levar grandes lições de vida e de moral do pai. Na verdade, nem tenho certeza se quem gostava de Simon e Garfunkel lá em casa era ele ou minha mãe. Mas não vem ao caso; só falei nisso porque quase desidratei hoje lendo o último livro do John Grogan, o pai do Marley, e é um livro de memórias principalmente sobre a relação dele com os pais. Também não sei se o cara é outro Markus Zuzak com pena mágica pra me fazer chorar ou eu é que estou mesmo totalmente fora de controle - o que é beeem mais provável, visto que são três e meia da manhã e estou aqui, fiscalizando os downloads e tentando instilar colírio nos olhos desconfortáveis de tão salgados pelo dia inteiro.
Mas o download que vim conferir é de uma música que por um desses estranhos desígnios sempre me foi muito cara. E diz Simon, o compositor, que não é sobre uma pessoa, mas sobre fé:

"For Emily, Whenever I May Find Her" is a song written by Paul Simon. It is the tenth track on Simon and Garfunkel's 1966 album by Parsley, Sage, Rosemary and Thyme, where it is sung by Art Garfunkel.
Paul Simon has said that the song is not about an imaginary girl Emily, but about a belief, while the song "Overs" (from the album Bookends) is about the loss of that belief.
(da Wikipedia)

Ocorre que eu nunca tinha ouvido falar desse álbum. Parsley, Sage, Rosemary and Thyme, ervas da feira de Scarborough. Mas ouvi muitas, muitas vezes, na minha pré-adolescência, Emily saindo das execuções do Greatest Hits, o vinil afanado na maior cara de pau pelo vizinho junto com tantos outros. E lembro-me perfeitamente que a versão do bolachão NÃO ERA ao vivo, ao contrário do que a própria Wikipedia diz. Sei disso porque também lembro da minha alegria ao encontrar o CD, muitos anos depois, e da decepção de ouvir aquelas palmas antes da música, sempre tão bucólica na voz pequena e suave de Art Garfunkel, ainda mais aquecida pelo barulhinho da agulha no vinil.
E só os deuses sabem o quanto eu penei pra achar a tal música, simplesmente por não ter procurado o disco original antes. Tá aqui. Três e meia da madrugada de segunda e estou novamente chorando com ela, que um youtubenauta classificou como uma das mais belas músicas que ele já tinha ouvido. Mas se puderem, ouçam a original. A diferença é quase nula, mas é enorme:

What a dream I had
Pressed in Organdy
Clothed in crinoline
Of smoky burgundy
Softer than the rain

I wandered empty streets down
Past the shop displays
I heard cathedral bells
Tripping down the alleyways
As I walked on

And when you ran to me
Your cheeks flushed with the night
We walked on frosted fields
Of juniper and lamplight
I held your hand

And when I awoke
And felt you warm and near
I kissed your honey hair
With my grateful tears
Oh,I love you girl
Oh,I love you

domingo, 20 de setembro de 2009

Temperamental

Belisama, toma conta de mim.
Porque tem coisas que a gente tenta guardar na gavetinha das belas lembranças, do que poderia-ter-sido-mas-não-foi... mas às vezes essas coisas se revoltam e fogem, e tentam tomar corpo de novo.
E que corpo.
Eu e meus cinco sentidos, todos alertas, todos atentos, observando o movimento, ouvindo a voz e quase sentindo um cheiro que só pode vir da memória.
Toma conta de mim e me segura dentro de casa, bem quietinha, porque é vinte de setembro e minhas façanhas precisam servir de modelo a toda terra!

sábado, 19 de setembro de 2009

Estoy embriagada

Não é legal? Acordar e dormir com a sensação de estar bêbada?
Não, não é.
A gente precisa ser produtivo, não estar com cara de velório simplesmente porque nove horas de sono não foram suficientes. A gente precisa estar inteiro, não se arrastando porque dias e dias de trabalho intenso tiveram o mesmo efeito de um rolo compressor. A gente precisa estar sóbrio e lúcido, não tonto a cada nova demanda, a cada toque do telefone, a cada pedido de presença. A gente precisa estar bonito e raciocinando, não enrolando os dedos e desmanchando nós nos ombros.
Acho que preciso dumas férias. Na falta delas, dormi um dia inteiro. Desliguei pro fato de que meu apartamento escondeu-se sob uma camada de bagunça impenetrável, cultivada por dias a fio de trabalho e acúmulo de novos brinquedinhos (livros, revistas, jornais, catálogos, bolsas... e até brinquedos mesmo), roupas por lavar e sapatos perdidos de seus pares.
Impraticável chamar uma faxineira. A criatura há de pedir adicional de insalubridade e um gps, para o caso de se perder na vastidão dos 27m2 mais densamente populosos da Guanabara.
Ainda estou na fase "catando quinquilharias". Espero o mapa astral virar e o trígono "acabando com o desperdício" se manifestar. Hora dessas ele vem. Eu sei.
Até lá, vou com babysteps descartando notinhas fiscais, devolvendo livros já lidos, limpando pedacinhos de mesas, colocando bolsas no armário... e de grão em grão esperando que esta galinha vomite tudo o que está enchendo seu papo e meu saco. Pelo menos o sofá já foi localizado.
E pra brindar a descoberta... vamos de lote 43. Que comemora não só o começo da organização, mas o lindo 20 de setembro que está aí, batendo à porta.

Devil in my life

Numa cortesia da minha mamãe:

E Deus fez a mulher...
Houve harmonia no paraíso.

O diabo vendo isso resolveu complicar...

Deus deu a mulher cabelos sedosos e esvoaçantes.
O diabo deu pontas duplas e ressecadas.

Deus deu a mulher seios firmes e bonitos.
O diabo os fez crescer e cair.

Deus deu a mulher um corpo esbelto e provocante.
O diabo inventou a celulite, as estrias e o culote.

Deus deu a mulher músculos perfeitos.
E o diabo os cobriu com lipoglicerídios.

Deus deu a mulher uma voz suave, doce e melodiosa.
O diabo a fez falar demais.

Deus deu a mulher um temperamento dócil.
E o diabo inventou a TPM.

Deus deu a mulher um andar elegante.
O diabo investiu no sapato de salto alto.

Então Deus deu a mulher infinita beleza interior.
E o diabo fez o homem perceber só o lado de fora.

Deus fez a mulher ficar maravilhosa aos 30, vibrante aos 40.
O diabo deu de presente a menopausa aos 50.....

Só pode haver uma explicação para isso:
O diabo é VIADO!!!!!!!!!

Bitter sweet symphony

Não resisti.



ô, aqui em casa.

Back to life

É isso.
Madrugada de sexta, quase três da manhã, os olhos mal mantendo-se abertos... e o sono não vem. Nem com Dorflex, nem com Rivotril.
Só aquele gostinho amargo de que nem todo o esforço do mundo é suficiente pra dar tudo certo...
frustração.
solidão.
cansaço.
o corpo dói e não se adapta às próprias medidas.
a cabeça dói e não entende o cada vez mais complicado ser humano, cada vez mais dissimulado, menos verdadeiro, mais defensivo e distante.
creio não haver solução. seremos todos as ilhas que Floriano Cambará previu na pena de Erico Verissimo?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

She works hard for the money

Eu me estresso, me estafo, durmo mal, como mal, me entupo de relaxante muscular, desisto de fazer o desconforto passar, maldigo meu joelho e meus pés, vivo debaixo duma camada já resistente de lápis de olho e rímel (dando uma contribuição solene às olheiras). Mal me contenho dentro do ônibus, desabo chorando logo que piso em casa, desmaio de tanto cansaço e só levanto porque ainda não virei anoréxica e gosto de mastigar e saborear o que como.
Mas é preciso reconhecer. Vejo as fotos dessas viagens todas, os momentos felizes, as coroações de anos de batalhas e de formações profissionais das quais orgulhosamente participei (não sei se os formandos sentem o mesmo, mas mãe é tudo assim, hehehe)... e lá vou eu, chorar de novo lágrimas do mais puro sentimento de dever cumprido.
Ouço o desabafo dos outros, a satisfação de um final de semana chegando com um peso a menos oprimindo o peito, novos horizontes se abrindo para os que também se exaurem de tanto trabalhar e não consigo: desmonto de novo, sob o peso do prazer de achar que não estou de todo errada.
Então lembro do Michael Moore, o sensacionalista mais divertido que apareceu no documentário americano nos últimos tempos, e a introdução do livro "Stupid white men: uma nação de idiotas", onde ele narra as dificuldades que teve para por o livro na rua. E posto aqui o trecho que me baliza.

Então, um milagre aconteceu. Sem meu conhecimento, havia uma mulher sentada no fundo, daquela sala perto da estrada de New Jersey, naquele 1º de dezembro, que depois de ouvir minha infausta história, decidiu fazer algo. Ela era uma bibliotecária de Englewood, New Jersey, e seu nome era Ann Sparanese. Ela foi para casa e começou a navegar na internet. Escreveu uma carta a seus amigos bibliotecários e a anexou em alguns sites dedicados a assuntos progressistas ligados a bibliotecas. Ela revelou o que a HarperCollins planejava fazer.
Ralhou comigo (bem ao estilo das bibliotecárias!), dizendo que eu não deveria ficar quieto, que eu não tinha o direito de ficar em silêncio, pois esse clima de censura e repressão não se restringia a mim. Afetava a todos. A nova Patriot Act dos EUA tornava ilegal que os bibliotecários se negassem a atender qualquer pedido da polícia para ver o que alguém estava lendo. Os bibliotecários poderiam ser presos só por tentar contatar um advogado e pedir conselhos! Ann Sparanese pediu que todos escrevessem para a HarperCollins e exigissem que a editora lançasse o livro de Michael Moore.
E foi exatamente isso que centenas e, no final, milhares de pessoas fizeram. Eu não tinha a mínima idéia de que isso estava acontecendo.
Não até receber um telefonema da HarperCollins.
“O QUE VOCÊ DISSE AOS BIBLIOTECÁRIOS?” interpelou a voz do outro lado da linha.
“Do que você está falando?”, perguntei, curioso.
“Você foi a New Jersey e contou tudo aos bibliotecários!”
“Não havia bibliotecário algum em New Jersey e como você sabe o que eu falei lá?”
“Descobrimos na internet. Uma bibliotecária está espalhando a história toda. E AGORA ESTAMOS RECEBENDO EMAILS FURIOSOS DE BIBLIOTECÁRIOS!”
Humm, pensei, os bibliotecários certamente são um grupo terrorista com o qual ninguém quer se meter.
“Desculpe”, disse, acanhadamente. “Certifiquei-me de que a imprensa não estava lá.”
“Bom, agora já está tudo no ar. A Publisher Weekly está me ligando.”
(…)
Na semana seguinte, depois de ser convocado para uma reunião na HarperCollins - na qual voltaram a me ameaçar de que meu livro, do jeito que estava escrito, “com essa capa e esse título, não pode ser lançado” – recebi uma ligação do meu agente, dizendo que o livro seria na verdade lançado como estava, sem nenhuma vírgula mudada.
Evidentemente, a editora ficou fodida porque tudo tinha caído na arena pública e porque estava sendo vista – corretamente – como censora.
Malditos Bibliotecários! Graças a Deus pelos bibliotecários!
Claro que não deve surpreender o fato de os bibliotecários terem encabeçado as acusações. A maioria acha que eles são reservados e quietos e que vivem dizendo “SHHH” para todo mundo. Agora estou convencido de que “shhh” é simplesmente o barulho que sai das bocas deles enquanto planejam a revolução!
É melhor acreditar que estão furiosos. Não ganham merda alguma, seus postos e benefícios são continuamente reduzidos, seu orçamento é o primeiro a ser cortado e eles gastam seus dias consertando livros de quarenta anos de idade que enchem as prateleiras. Claro que foi uma bibliotecária que veio em minha ajuda! Provou pra mim, novamente, a diferença que apenas uma pessoa consegue fazer.


Bem... sinto que fiz a diferença essa semana. Provei que nem toda bibliotecária é furiosa e quieta - algumas até contam piadas sobre o taxista idiota que causou atraso na maior cidade do país. Esforcei-me para melhorar as condições da minha equipe. Só falta agora provar por a + b que, se Tutatis não fizer nada pela reforma da Biblioteca Nacional, o céu... ou melhor, a abóbada riquíssima, vai cair sobre nossas cabeças com sua secular história.
E só pra não perder o ritmo alucinante, dos cinco dias úteis da semana que vem, estarei em reuniões ou eventos fora da sede em quatro deles.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Devil in disguise

E eu lá, trabalhando horas a fio a três quadras da Oscar Freire, a duas ou três de mil lojas estupendas de instrumentos musicais... perdi meu voo e tive de passar uma hora inútil em Congonhas, de novo.
Em algum lugar uma estrela cadente caía e ouvia meus pensamentos. Eu pedi um amigo. Um anjo que fosse bem bonzinho.
E aí ele estava me espreitando. Lá de dentro da loja. Piscou pra mim e se enfiou numa sacola colorida... sorte que ele não pagou passagem.

Rehab

Socorro. Preciso de tratamento.
É simplesmente impossível para este corpo passar por uma livraria, revistaria, banca de jornal ou meramente um montinho de papel sem ir dar uma fuxicada.
Até aí, tava tudo bem... não fosse por eu ver livros e impressos durante oito horas de todos os meus dias úteis. E se a cada incursão nesses templos de perdição meu bolso não sofresse o pênalti... e meu ombro também, em alguns casos. Hoje os brinquedinhos pesaaaavam. Tanto que um deles chama-se "cube book".
No outro ombro, pra equilibrar, coloquei um Miolo Lote 43 2004 a 94 pilas. Não dava pra perder, dava?

Sampa

E pra encerrar a maratona... São Paulo.
Que os deuses me livrem de morar nessa maldita cidade onde pra ir até a esquina se leva meia hora. Ainda tive o azar supremo de pegar o taxista mais bunda-mole da cidade, que fez mil voltas inúteis e me fez atrasar uma hora pra minha reunião. Pra que gps se o cidadão não faz a menor ideia de como se usa?
Pelo menos o trabalho foi produtivo. Tão produtivo que perdi o voo de volta.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Because the night

Nada como bater na porta do arquivo de músicas que a gente não ouve há um tempão.
Junto com essa aqui, vieram November Rain, Who´ll stop the rain? e duas do Pearl Jam. Tudo regado a chope e Butekowski, ô coisa boa. Mas essa... é verdade absoluta.


Take me now, baby, here as I am
Hold me close, try and understand
Desire is hunger is the fire I breathe
Love is a banquet on which we feed

Come on now, try and understand
The way I feel under your command
Take my hand, come under cover
They can't hurt you now

Because the night belongs to lovers
Because the night belongs to lust
Because the night belongs to lovers
Because the night belongs to us

Have I doubt, baby, when I'm alone
Love is a ring on the telephone
Love is an angel, disguised as lust
Here in our bed 'til the morning comes

With love we sleep, with doubt the vicious circle turns, and burns
Without you, I cannot live, forgive the yearning burning
I believe in love too real to feel, take me now, take me now, take me now

(I´ve had) The time of my life

Pois o câncer levou mais um dos bons.
Patrick Swayze, o astro tardio, sucumbiu a essa doença maldita que o deixou quase irreconhecível nos últimos dois anos.
RIP, e dance muito - de preferência sem encarnar na Whoopi Goldberg.

It´s over, it´s under

Ah, pois é. Eu e minha impagável inocência, achando que ia poder descansar.
Chego pra trabalhar na segunda e descubro que meu sucesso foi grande, e que gostariam da minha presença em São Paulo.
Lá vou eu. De novo.

domingo, 13 de setembro de 2009

A thousand miles

Acabou.
E antes que eu desabe de vez, expurgo.
Três cidades, quatro eventos, muitos espirros, sucesso absoluto. Em três semanas.
Brasília: é, né? Uma contradição entre a beleza de ser pré-concebida, planejada, desenhada em vinte páginas e a artificialidade. Tão amplo que para os acostumados ao desordenamento urbano do crescimento natural, soa esquisito. Mas sim, dá pra entender a ideia do JK. E genio é o Lúcio Costa, não me venham com o Niemeyer e os predinhos star-trek-não-sei-por-onde-entra. Lindo, mas na prancheta.
POA: o de sempre. Com a graça de ir a uma formatura de seis ex-alunos e chorar como uma mãe vendo o filho lá, de toga.
Show do intervalo: Convenção de Livrarias. Beeem bacana.
E bora pro Sul de novo, Floripa, congressinho de genealogia básico pra ficar de bem com a vida.
Mas essa vida de pop star cansa. É legal ser legal, mas é muito chato não ter alguém esperando pra poder contar como foi tudo legal. Tão bacana que até achei um maldito sapato decente e confortável pra comprar.
É legal ter um monte de gente elogiando e mostrando que a gente está indo por um bom caminho. Mas nunca parece o melhor caminho quando a gente está trilhando sozinho.
Pronto, falei. Missão cumprida, abaixo de chuva nas três viagens. Muitas histórias pra contar... pras paredes?

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Travelling light

Lá vou eu pra mais um piripaquinho de cansaço.
Uma reunião, dois eventos, três viagens, uma coleção de cartões de visita e catálogos de livraria. Tudo isso em três semanas.
Meus pés doem, minhas pernas doem, minha cabeça pesa...
spa djá pra este corpitcho.

domingo, 30 de agosto de 2009

Meu mundo e nada mais

Quanto mais eu conheço as pessoas, mais me convenço de que o melhor que faço é ficar em casa curtindo uma cama quentinha, um silêncio confortável, um papo virtual ou um dvd de seriezinha antiga.
Apesar de sempre acontecerem episódios bacanas (como Armando Nembri me respondendo ao post, e eu deixando todo mundo babando ao dizer que ele é, além de tudo, um lorde), no fim das contas é sempre a mesma história, sempre tem uma babaquice acontecendo.
Intriga me dá preguiça.
Fofoca me dá preguiça.
A vida social demais socializa o que não devia. A vida privada vai pela privada; o que deveria ser particular passa a ter nuanças públicas, vira enredo de novelas intermináveis, de capítulos espetaculosos, de burburinhos e especulação.
Tudo muito chato, muito cansativo.
Viva as caverninhas, viva o low profile, viva o trabalho árduo que exaure e obriga ao recolhimento saudável. Viva a discrição e o umbiguismo preservador. Viva o nariz que não se mete na vida dos outros, viva o cuidar da própria vida, viva e deixe viver - ou morrer, porque cada um faz o que bem entender.

Mother

Assumo: tem algo de crise dos 30 na minha atmosfera.
Estou neurótica com cremes, rugas, sinais. Acontecem umas dores esquisitinhas. Demoro mais pra me recuperar de qualquer coisa - noitada, dodoizinhos, angústias, estafas.
Mas o pior é esse odor de maternidade cobrada.
O número de gravidezes, partos e crianças pequenas ao meu redor aumentou consideravelmente. E ouvi duas vezes na mesma semana perguntas a respeito de quando é que vou ter um rebento. Uma delas, inclusive, foi retrucada com um sinceríssimo "não sei se seria uma boa mãe"... e tomei um "vai sim, claro que vai, além de tudo você faz docinhos ótimos!"
É isso. Uma "puta mãe", como me qualificaram em outra ocasião, deveria criar seus filhotes a base de docinhos de leite condensado?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Todos estão surdos

Tem gente que faz do fato de existir uma profissão de fé, uma lição de vida.
Entrei na sala de aula atrasada, sonada, chapada de analgésico. O professor me esperou sentar para dar bom-dia, no meio duma fala sobre os sete hábitos das pessoas eficazes.
Estranhei a dicção. Seria gripe? Alergia? Lábio leporino? Ou só a paralisia... qual lado? Direito ou esquerdo?
Ele corria de um lado para outro na frente da turma, apagava frenético o quadro branco e enchia novamente de anotações, se exercitava apontando as próprias observações. E falava, muito e articuladamente.
Até que descobri. Jogo dos sete erros: onde estão as orelhas?
Cadê o ouvido direito?
Acidente?
Como alguém ouve sem filtrar o som nas reentrâncias das orelhas?
Logo descobri: não ouve. Ou melhor, ouve, mas dum jeito muito peculiar.
O doutorando Armando Nembri, filho duma professora de surdos-mudos, nasceu com uma síndrome que lhe negou a audição, podou as orelhas, paralisou o lado direito da face e causou problemas de coluna. Aprendeu a falar aos sete anos. Ouviu o Hino Nacional pela primeira vez com a cabeça encostada numa caixa de som em plena Avenida Presidente Vargas, num comício pelas Diretas. Chorou de emoção ao literalmente sentir a melodia ecoando no crânio, encontrando a letra que ele já conhecia e admirava a beleza.
E este homem estava lá, falando sobre liderança e gerenciamento de pessoas. Respondendo perguntas. E atendendo ao celular.
Sim, porque o ser humano é capaz de praticamente tudo. Ele prefere "ouvir" encostando o aparelho na testa, onde a ressonância é melhor. Mas prefere não dar uma de maluco no meio da rua e apóia o celular na base da cabeça, atrás de onde ficariam suas orelhas. Ele "ouve" um som intermitente, e então o som cessa, e ele reconhece uma voz. Então ele fala, dá o recado de onde está, para onde vai, e que falará mais tarde.
Admirável. Emocionante. Não pude assistir todo o curso, mas creio que aprendi lições preciosas de humanidade e conduta que não estão em livro algum.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Under pressure

Das poucas pessoas que me entendem, uma delas entendeu mais do que as outras e chutou: eu já nasci velha. Devo ter nascido com uns 30 anos. Isso quer dizer que agora estaria chegando perto dos 60, porque não, não sou o Benjamin Button e não fico mais jovem com o passar do tempo.
Acontece que eu acho que não nasci velha: tornei-me velha. Cobraram de mim a maturidade precoce e hoje, quando poderia tranquilamente ser ainda um kiddult, um filho canguru preso à bolsa da mãe como tantos outros, não consigo me livrar desse fardo, desse peso, dessa bagagem. Continuam me cobrando maturidade, comportamento, atitude, experiência. Algumas dá pra fingir; outras, a gente encara de frente, peita a própria vergonha e assume que está na pista pra aprender como todo mundo.
Só que tem coisas que me enlouquecem.
Fico realmente doida comigo mesma quando acabo sucumbindo aos malditos chamados mensais da mãe natureza. Ontem, por exemplo, saí do trabalho começando a ter um surto de dor. Desci do ônibus vinte e cinco minutos depois já atordoada, com a sensação de esmagamento lateral do crânio, mal conseguindo abrir os olhos, leve vertigem tomando conta. Tome Tylenol AP, não tão eficaz quanto a paz duma casa escura em silêncio, mas necessário para poder ir até a farmácia fazer minhas compras.
Antes de dormir, vamos de chazinho, comprimido sublingual para cólica e Neosaldina para a companheira dor de cabeça. Neosa vai ser demitida por incompetência.
Acordei hoje mais cedo que o habitual, tentando ser uma funcionária modelo e ir bonitinha para o curso a que me candidatei... em vão. A brisa que abriu a cortina expôs meus olhos à luz do dia e me flechou direto nos nervos, agulhadas, flashes intensos. Dor.
Dorflex para a segunda tentativa, duas horas mais tarde. Podia ser que tivesse melhorado... tsc, tsc, tsc.
Ormigrein para a terceira tentativa, pelo menos para falar ao telefone e explicar que estava passando mal em casa. E já sentir, no tom de voz, que amanhã o bicho vai pegar pro meu lado.
Antigamente o estatuto do funcionário público previa três dias de folga para "aqueles dias". Hoje em dia a gente ri, acha engraçado, e absurdo até, porque como a lei não podia discriminar homens e mulheres, o que tinha de macho menstruado era uma coisa de louco. Mas eu confesso que bem queria os tais diazinhos pra poder passar mal em paz, sem culpa, sem me sentir fraca, sem achar que estou faltando com minhas obrigações e acabar com essa síndrome de Mulher Maravilha que me acompanha desde o berço.
É melhor eu pensar em histerectomia ou mudança de sexo duma vez.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Patience

Todos os deuses sabem que sou um bichinho bem paciente.
Mas, oh Belenos, estão lá, nas comunidades das quais participo, coisas do tipo "Eu odeio idiotas na biblioteca" e "Eu odeio MUITO gente burra!"
Pela mãe do guarda, taí uma combinação que me tira do sério: idiotas burros na biblioteca. Por e-mail ou ao vivo, são de matar. Numa segunda feira quente de quarenta e cinco minutos perdidos no trânsito logo de manhã, num início de semana de dor de cabeça e cólica, ninguém merece. Muito menos eu.

domingo, 16 de agosto de 2009

It´s my life

Sigo na batalha de tentar ser menos burrinha nas ciências ditas exatas, mas não perco de vista as leis do Ranganathan - e quando me sinto muito desafiada na minha compreensão, sei que Stephen Hawking me perdoa e pulo páginas mesmo, sem perdão. No cômputo geral, "O Universo numa Casca de Noz" continua me parecendo um belo livro, e me fez entender que a Física não é assim tãããão exata quanto nos fazem pensar na escola. Aliás, por que é que a gente tem de se entupir dessas coisas na escola e se tapar de nojo por tanto tempo de algo tão bacana?
Mas comecei a escrever porque, além de descobrir que sou muito mais ignorante do que eu já pensava sobre o nosso ilustre doutor (eu achava que ele sempre tinha sofrido da doença que o acomete, mas agora sei que a esclerose lateral amiotrófica só foi diagnosticada nele aos 21 anos, e isso o deu tempo pra ter três filhos e atualmente um neto bem fofucho), li umas coisas interessantíssimas no livro que dizem respeito diretamente ao meu humilde trabalhinho.
Em 2001, Hawking escreveu:
Se você enfileirasse todos os livros novos que estão sendo publicados um ao lado do outro, você teria que correr a cento e cinquenta quilômetros por hora apenas para acompanhar a frente da fila. Naturalmente, no ano 2600 [...], se o crescimento exponencial continuasse, apareceriam dez artigos por segundo em minha área da física teórica, e nenhum tempo de lê-los. (p. 159)
Agora imaginem que numa escala ligeiramente menor (porque em âmbito apenas nacional), é a tarefa da minha equipe captar toda a produção bibliográfica brasileira, catalogar, classificar e indexar, para permitir que no país inteiro bibliotecários não percam mais tempo fazendo o mesmo trabalho, indicando qual é o estado da arte da bibliografia brasileira e facilitando o acesso a obra (sem falar, obviamente, na quantidade estrondosa de pessoas que atendemos diretamente, seja nos salões de leitura ou através dos serviços remotos). Em números, isso quer dizer que entram no meu salão cerca de 3 mil volumes todo mês, pra ficarmos só nos livros. E isso é mais ou menos metade da produção editorial brasileira, porque infelizmente nem todo mundo sabe que existe uma lei prevendo não só o envio de um exemplar de cada obra para nós como uma punição bem bacana que acabaria de vez com nosso problema de verba se fosse devidamente aplicada. Além disso, ainda temos os desafios infindáveis de recuperar informações de catálogos antigos, buscar obras que não foram depositadas quando deviam, processar doações e coleções antigas, bolar jeitos melhores de organizar o pouco espaço que temos...
Deu pra entender por que é que eu chego em casa exausta todo dia?

Ride the lightning

Olha que eu nem sou fã de atletismo, mas cheguei a me emocionar com o jamaicano Usain Bolt, feliz da vida, correndo tão rápido que nem deu pra acreditar. Até escrevo por extenso o tempo: nove segundos e cinquenta e oito milésimos, pra percorrer cem metros. Dá até pra perder a noção da distância. Aquele homenzarrão enorme botando pra explodir a massa muscular, bem diferente das gazelas africanas que correm como esbeltos felinos. Tudo lindo.
Mas o melhor de tudo foi ver o americano putinho. Bem Gay (ai, trocadilhos infames)...

sábado, 15 de agosto de 2009

Slave to the rhythm

Como boa taurina, quando eu encasqueto alguma coisa... saiam da frente.
Pode ser que daqui a quinze minutos eu enjoe do brinquedo, mas cumpri fielmente meu destino de encasquetadora-mor, fui lá e paguei pra ver, o que quer que tenha sido.
Minha última encasquetada atende pelo nome de Grace Jones, de quem sou muito fã da versão de La Vie en Rose. Mas embestei que queria ouvir mais da dita cuja.
E quase caio da cadeira ao descobrir que a distinta senhora já bateu nos sessenta anos, que gravou a vida cor-de-rosa antes mesmo de eu nascer, e que lançou um disco no ano passado que tem coisas bem audíveis e outras detestáveis, mas que ela como jamaicana de nascença deve ter achado bem legais. Sim, são reggaes.

(Ah, sim, antes de encasquetar com Grace Jones tinha sido Nico Rezende. Levei duas semanas baixando dois discos. E não tem os crááássicos. Meus sais, por favor)

Strawberry fields forever

Aí eu resolvi que merecia um almoço bem porcaria, bem calórico, bem ao estilo McDonald´s depois de voltar duma expedição ao prédio anexo, que deveria se chamar Depósito, ou Vergonha, ou qualquer outra coisa mais apropriada ao descalabro que é aquele baita silo na zona portuária totalmente desorganizado - e pior, condenando as obras da BN a deterioração por conta da falta de cuidado na armazenagem.
Fui ao bendito maczinho depois do horário de pico e, voilà, toda a Cinelândia teve a mesma ideia que eu e foi almoçar na mesma hora.
Por sorte, muitas das pessoas levam o lanche e então sobram bastantes lugares pra sentar.
Lá fui eu, fazer o test drive do suco de frutas vermelhas. Sento e deponho a bandeja na mesa... praquela maldita abaular de vez e derrubar meio litro de pura tintura vermelha em cima de mim, direto. Sem escalas.
Polianamente pensando, a calça já estava imunda mesmo e a blusa era preta. Meno male.
Racionalmente falando, saí de lá me sentindo um bebezinho mijado, apesar de ter sentado sobre guardanapos enquanto almoçava e ter praticamente menstruado em cima deles.
Atravessei a praça não sabendo se ria ou se chorava, rezando pra que ninguém prestasse atenção em mim e dando graças aos deuses de trabalhar perto e ter um avental pra sentar sem emporcalhar minha linda cadeira - mas francamente contrariada porque me trouxeram Coca Cola pra beber.
E fiquei a tarde toda me achando a Moranguinho, exalando aquele perfume gostooooso de fruta vermelha artificial.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Psycho killer

Catei um testezinho desses que eu adoro fazer só pra saber meu arquétipo junguiano. Taí, ó. Scaring.

ISTJ

Você é uma pessoa tranqüila e reservada, que preza por segurança e paz. Você tem um forte senso de dever, que lhe dá um “ar sério” e a motivação de cumprir tarefas. Organizado e metódico ao fazer as coisas, você geralmente consegue cumprir qualquer atividade ou tarefa que você assumir.

Você é uma pessoa muito leal, fiel, confiável, e que valoriza honestidade e integridade ao extremo. Você é o típico “cidadão exemplar”, em quem se pode confiar que fará o que é certo para com sua família e comunidade. Mesmo que você leve tudo o que faz a sério, você também tem um senso de humor meio descompassado, podendo ser uma pessoa muito divertida – especialmente em festas ou encontros de família, ou do serviço.

Você tende a confiar em leis e em tradições, e a esperar o mesmo dos outros. Você não se sente confortável em infringir leis ou em ir contra regras. Se lhe dão uma boa razão para você deixar de fazer as coisas da maneira com que você está acostumado, você dará apoio a essa nova maneira. No entanto, você tende a crer que as coisas deveriam ser feitas de acordo com procedimentos e planos. Se você não desenvolver seu lado intuitivo o suficiente, você pode acabar ficando obcecado com estrutura, insistindo em fazer as coisas seguindo as regras e os procedimentos à risca.

Você é extremamente confiável, fielmente cumprindo o que você se compromete a fazer. Por essa razão as pessoas têm uma tendência a empilhar mais e mais trabalho “nas suas costas”. Como você tem esse forte senso de dever, você pode ter dificuldade em dizer “não”, mesmo que você já tenha serviço mais do que suficiente para se ocupar. Por isso, você provavelmente acaba (ou acabará) tendo que fazer hora-extra no trabalho, e deve então se cuidar para que outras pessoas não tirem proveito de você.

Você pode trabalhar por longos períodos e gastar bastante energia em qualquer coisa que você achar ser importante para o cumprimento de uma meta. Entretanto, você resistirá e não se esforçará numa tarefa ou atividade se ela não fizer sentido para você, ou se você não puder enxergar nela uma aplicação prática. Você prefere trabalhar sozinho, mas também trabalha bem em equipe se for necessário. Você gosta de ser responsável por seus próprios atos, e de estar em posições de autoridade. Você não usa muita teoria ou pensamento abstrato, a não ser que haja uma aplicação prática clara.

Você respeita o que você considera como “fatos”, tendo uma tremenda quantidade deles armazenada em sua memória, que foram absorvidos através dos seus cinco sentidos. Você pode ter dificuldade em entender uma teoria ou uma idéia que seja de uma perspectiva diferente da sua. Porém, se alguém a quem você respeita ou com quem você se importa consegue lhe mostrar a importância ou a relevância dessa teoria ou idéia, ela se torna um fato que você irá internalizar e apoiar. E uma vez que você apóia uma idéia ou uma causa, você não medirá esforços para garantir que você esteja cumprindo seu dever de ajudar a quem precisa de ajuda.

Não é normal que você esteja em sintonia com seus sentimentos e com sentimento dos outros, podendo ter dificuldade em identificar necessidades emocionais dessas pessoas num primeiro momento, pelo menos da maneira com que elas são expostas. Já que você é uma pessoa perfeccionista, você tem uma tendência a não valorizar os esforços das outras pessoas suficientemente, da mesma maneira que você acaba não valorizando seus próprios esforços. Assim, você deve se lembrar de dizer às pessoas o quanto você aprecia os esforços delas e de encorajá-las de vez em quando.

É provável que você se sinta desconfortável expressando afeto e emoções na frente de outras pessoas. Entretanto, seu forte senso de dever e sua capacidade de enxergar o que precisa ser feito, em qualquer situação, permitem que você se torne uma pessoa menos reservada, dando apoio e carinho às pessoas que você ama. Assim, você se esforça para suprir as necessidades emocionais daqueles mais próximos a você, uma vez que você as reconhece.

Você é extremamente fiel e leal. Tradicional e voltado à família, você se esforça ao extremo para garantir que as coisas na sua casa e na sua família andem bem. Você é um pai ou mãe responsável, que leva suas tarefas paternais ou maternais com muita seriedade. Pessoas como você são ótimas provedoras de segurança financeira no lar. Você se importa muito profundamente com aqueles próximos a você, apesar de você normalmente não se sentir confortável em expressar este amor. Na verdade você prefere expressar seu afeto através de ações, ao invés de que através de palavras.

Você tem uma capacidade imensa de pegar qualquer tarefa e defini-la, organizá-la, planejá-la, e implementá-la, até que a considere como cumprida. Você trabalha muito duro, e não permite que obstáculos que apareçam no seu caminho impeçam que você execute suas responsabilidades. Você geralmente não se valoriza o suficiente por suas conquistas, pois as vê como um simples cumprimento de suas obrigações.

Você tem uma ótima noção de “espaço e função”, e demonstra uma apreciação artística das coisas. Assim, é provável que você mobílie sua casa com bom-gosto e que a mantenha de forma impecável. Você tem uma noção precisa de seus sentidos, e quer estar em ambientes que se encaixam com sua necessidade de estrutura, ordem e beleza.

Em situações de estresse você pode acabar entrando num “modo-catástrofe”, em que você não enxerga nada além de todas as possibilidades de coisas que podem dar errado. Você também fica “se remoendo” por coisas que você poderia ter feito de uma maneira diferente, ou por coisas que você não conseguiu executar. Mas em geral, você tem um potencial gigantesco. Você é uma pessoa capaz, lógica, racional, eficaz, e com um desejo profundo de promover a segurança e a paz. Em outras palavras, você tem o que se precisa ter para ser uma pessoa altamente eficaz em atingir suas metas, quaisquer que elas sejam.

domingo, 9 de agosto de 2009

Perdidos na selva

Então eu sou Tarzana, perdida na selva de pedra e das ilhas que não se comunicam, das pessoas que não se entendem, dos diálogos infrutíferos, dos duros corações e das lágrimas furtivas, derramadas somente na solidão implacável dos finais de dias exaustivos.
Sou Mowglina, menina-loba, de afeto grosseiro e trato esquisito. Sou a filha de Robinson Crusoé, a herdeira anã de Atlas, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, e todos esses personagens condenados ao monólogo interminável, à incompreensão, ao peso do mundo nas costas, à solitária convivência consigo mesmo.
Resta-me agora um curso de sobrevivência na selva, um de faça-você-mesmo tudo dentro de casa e um de primeiros socorros. Aí sim, vai dar pra passar bem o resto da vida.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Answers

Eu só vou ao salão/cabeleireiro em caso de absoluta necessidade. Embora o cafuné seja uma delícia, detesto aquela babação de ovo, o cacarejo do mulherio, aquele ar que exala futilidade... e o papo forçadésimo entre dois ilustres conhecidos. Cabeleireiro devia ser que nem massoterapeuta: absoluto silêncio, musiquinha no máximo. Nem precisa incenso: aquele cheiro de cabelo secado no secador já se encarrega do estímulo olfativo.
Mas eis que surge a absoluta necessidade, aquela em que o tratamento de choque da hora do banho não resolve e não adianta mais puxar o cabelo repartido pra frente e passar a tesoura, porque o pobre coitado está em petição de miséria, completamente sem corte e sem personalidade, e pedindo pelamordacurupita por uma tesourada profissional.
Fui, né? Fazer o que...
aproveito pra me inteirar das fofocas daquelas revistas altamente produtivas, com literatura de extrema qualidade.
Estou conseguindo me livrar da fofoca (até porque com secadores de cabelo funcionando no recinto, ninguém merece papinho aranha)... eis que o sujeito pesca uma chance no ar.
"Você é calma assim mesmo?"
O QUE PASSOU PELA MINHA CABEÇA: não, só quando não estou com a menor vontade de conversar.
O QUE RESPONDI: sim, mas também estou suuuuper cansada.
Bingo! Ele se compadeceu da minha pobre situação de trabalhadora e fez uma massagem na nuca.
"É que você é tão quietinha que fico até com medo de conversar."
O QUE PASSOU PELA CABEÇA: aproveita e me traz uma neosa, por favor.
O QUE RESPONDI: hahahaha... mas não precisa, não, pode falar.
Logo em seguida ele trouxe aquele equipamento alienígena de botar a cabeça dentro e esquentar com vapor... e aí não tinha muito o que fazer, a não ser me deixar na paz da literatura produtiva. Mas mais hora, menos hora, ele ia tirar o apetrecho. Tremi pela chegada da hora.
"Você é do sul?"
O QUE PASSOU PELA CABEÇA: pqp. demorou.
O QUE RESPONDI: sim, sou gaúcha. de Porto Alegre.
PQP II, A MISSÃO: ele respondeu.
"Por que todo mundo lá é bonito, hein?"
O QUE PASSOU PELA CABEÇA: bem, tenho um monte de hipóteses. Porque nossa genética é melhor, porque não ficamos torrando no sol que nem croquetes o ano todo, porque nos cuidamos, porque inteligência e bom senso fazem bem pra pele?
O QUE RESPONDI: HAHAHAHA! Deve ser o leite!
E no final, o petulante ainda queria dois beijinhos... eu mereço.
É por isso que chego na sexta feira de cama.

God only knows

Não sabe a resposta?
ELE sabe!
E perguntem duma vez pra eu poder rir mais, porque já li o site todo...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

The heat is on

Trinta e três graus na princesinha do mar e eu de meias de nylon e botas.
E pra completar, vou esquentar ainda mais a cuca... hidratando os cabelos com um cabeleireiro que fez a gentileza de prestar atenção quando disse que estava cansada e caprichou na massagem.
Quase ronronei, mas achei que ia pegar mal.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Nutshell

"Percebo que minha concepção do livro é como a do amor. Apesar de libertina, certamente nunca fui volúvel. Vejo aqueles que emendam histórias de amor como se fossem pessoas de uma raça estrangeira da qual não conheço nem a língua nem os costumes. Sou de um ceticismo irrevogável e desencorajador diante das naturezas românticas que sucumbem ao amor à primeira vista."

Ouié, mas esse foi o último livro que li. "A outra vida de Catherine M." Elegantérrimo.

No entanto, minha melhor descoberta se chama "O universo numa casca de noz". Ou melhor: minha melhor descoberta foi finalmente entender a teoria da relatividade.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Everybody´s talking

A BN acabou de inaugurar seu blog, e eu orgulhosamente participei do post de estreia.
Olhem que bacana.

domingo, 2 de agosto de 2009

The key

Tic.
No mesmo dia em que o tarô me traz o Cavaleiro de Espadas e me pede para me abrir ao novo, largar de mão aquilo que já está ultrapassado, entender que esta é uma época de mudança... eu perco as chaves de casa. Pela primeira vez em vinte e nove anos.
Devo considerar isso auspicioso?

sábado, 1 de agosto de 2009

1º de julho

Com um mês de atraso, mas com o timing certo no contchiúdo...

Eu vejo que aprendi
O quanto te ensinei
E é nos teus braços que ele vai saber
Não há por que voltar
Não penso em te seguir
Não quero mais a tua insensatez

O que fazes sem pensar aprendeste do olhar
E das palavras que guardei pra ti
Não penso em me vingar
Não sou assim
A tua insegurança era por mim

Não basta o compromisso
Vale mais o coração
Já que não me entendes, não me julgues
Não me tentes
O que sabes fazer agora
Veio tudo de nossas horas
Eu não minto, eu não sou assim
Ninguém sabia e ninguém viu
Que eu estava a teu lado então

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha,
Minha irmã, minha menina
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser
Sou Deus, tua deusa,meu amor
Alguma coisa aconteceu
Do ventre nasce um novo coração

Não penso em me vingar
Não sou assim
A tua insegurança era por mim
Não basta o compromisso
Vale mais o coração
Ninguém sabia, ninguém viu
Que eu estava ao teu lado então

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha,
Minha irmã, minha menina
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser
Sou Deus, tua deusa, meu amor
Baby, baby, baby, baby

O que fazes por sonhar
É o mundo que virá prá ti e prá mim
Vamos descobrir o mundo juntos baby
Quero aprender com o teu pequeno grande coração

terça-feira, 28 de julho de 2009

Idols

ADOOOOORO!
House está diante de uma suspeita de epidemia.
Cuddy diz a ele que essa suspeita eleva o nível de biossegurança a 3.
Ele responde: "Uau, três! Chamou o Jack Bauer?"

A different corner

Mas por que é mesmo, ó deuses, que nos fazem estudar tanto quando as coisas não fazem sentido?
Como é diferente, e interessante, estudar sob demanda.
Agora matriz SWOT, cenários, ambiente externo e interno, tudo isso tem muuuuito mais graça. Até dá pra encarar cursinho de segunda a sexta, 9-to-6.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Il Niño

(ha. Sim, eu achei uma música com esse nome, benzinho!)
Bem, meu anjo, já que não ouves por telefone sem dar um ataque, vai por aqui mesmo.
Isso se leres, não é? Porque tu lês o que quiseres!
Agora que consegui controlar minha risada, quero reforçar o quanto de PENA me dá esse teu comportamento.
Tu me mandaste crescer, tomar no cu, dar pra quem eu quisesse, me foder, e bla bla bla.
Eu só te mando - ou melhor, sugiro - parar e pensar. Porque daqui a cinco, dez, quinze ou vinte anos, não importa, vais estar sozinho por conta dessa neurose. E dessa grosseria.
Tu disseste que eu estava infeliz, e que não sabia de nada que ocorria na tua vida.
Não me interessa agora o que ocorre. Sei que sinto saudades, que ainda gosto de ti. E que tenho pena desse teu comportamento tão grosseiro. Não quis te ofender, nem nada. Só quis pedir minhas coisas de volta. Mas a grosseria fala mais alto. E aí, só me resta rir, e ter pena.
Tu me acusaste de estar bêbada, como em toda vez que eu tento te contatar inesperadamente. Não foi o caso dessa vez; como eu disse, só te liguei porque levei um mês pra me dar conta de que tua capacidade de criar caso por nada e de me levar à culpa foi realmente digna de nota. Mas continuo, depois de todos os desaforos, rindo. Rindo porque sei que a melhor defesa é o ataque. Rio porque sei que não te resta nada pra dizer de mim além de grosserias gratuitas. Rio porque agora sim é que começarei a ficar infeliz: porque, além de me dar conta do nada que foi a nossa separação, dei-me conta do tudo que nos separa.
Agora sei o que é de fato elegância. Sei que não preciso recorrer ao baixo calão, nem aos gritos, nem a nada. Sei, e lamento. E talvez chore, mas não agora, porque o choque está ainda batendo em meus ouvidos.
Se tu quiseres, e fizeres questão, da polícia batendo em tua porta, para que eu pegue meus livros, assim o será. Se tu quiseres, chamo todos os meus amigos babacas para irem também. Chamo quem for preciso, só pra por um ponto final nessa história. E, creia, o pior pra mim ainda está por vir. Ainda vou chorar, vou sofrer, vou passar muito trabalho. Mas não é a primeira, nem será a última vez, que vou sofrer por quem não merece.
Como ouvi duma pessoa esses tempos, é claro que eu gostaria de um companheiro. Achei que fosse tu, infelizmente me enganei. Sonhei um monte de coisas pra nós. Pensei em ti muito, mesmo nesse tempo longe. Senti tua falta, te quis por perto para compartilhar minhas vitórias. Mas sozinha por sozinha, fico só eu, que sou inteira.

domingo, 26 de julho de 2009

Give me the simple life

Fui atrás da dica do toureiro francês que conheci numa noite dessas e cacei um livro do tal Michel Houellebecq. Juntei a fome com a vontade de comer: comprei em Porto Alegre, na minha livraria favorita, e descobri que a capa do livro era arte do meu querido e saudoso Turuga.
Do livro... que dizer? Não achei o portento que a França montou, mas talvez seja o mau hábito de ter lido Caio F. demais. De todo modo, reconheço que dez anos atrás, quando "Partículas Elementares" foi lançado, deve ter causado espécie mesmo. Mas é um bom livro, sem dúvida. E o toureiro acertou direitinho.
Transcrevo aqui uma das passagens:

Também ele só queria amar, mas não pedia nada. Nada de preciso. A vida, pensava Michel, devia ser alguma coisa simples, alguma coisa que se pudesse viver como a soma de pequenos rituais, indefinidamente repetidos. Rituais eventualmente um pouco simplórios, mas nos quais, entretanto, fosse possível acreditar. Uma vida sem riscos e sem dramas. Mas a vida dos homens não estava organizada assim. Às vezes, saía e ficava observando os adolescentes e os edifícios. Uma coisa era certa: ninguém sabia mais como viver. Enfim, exagerava; alguns pareciam mobilizados, empurrados por uma causa, com a vida carregada de sentido. [...] Adolescente, Michel acreditava que o sofrimento concedia ao homem uma dignidade suplementar. Tinha agora de convir: enganara-se. Aquilo que dava ao homem uma dignidade suplementar era a televisão.

A little less conversation

Saramago, meu rei, entrevistado pelo Globo.

O senhor acompanha o fenômeno do Twitter? Acredita que a concisão de se expressar em 140 caracteres tem algum valor? Já pensou em abrir uma conta no site?

SARAMAGO: Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.

sábado, 25 de julho de 2009

You learn

O tempo vai passando e a gente vai aprendendo. A duras penas, mas aprende.
A gente aprende, principalmente, que pode certas coisas.
Eu aprendi que posso me permitir estar com raiva, ansiosa, sentindo-me injustiçada, achando que tudo está mal resolvido e que eu merecia uma chance de pelo menos dizer de como penso que tudo não passou de uma babaquice.
Aprendi que posso, sim, achar que tudo em volta está um saco, e que mereço um dia de reclusão no conforto e maciez da minha cama, a salvo das especulações e fofocas alheias poluindo meus ouvidos e desviando minha atenção.
Dei-me conta de que é importante priorizar minhas tarefas cotidianas, rotineiras, aquelas nas quais gasto mais tempo e emprego mais energia. Sim, estou falando do trabalho. O resto é o resto.
E, por último, aprendi que putisgrila, aquela terapia foi rápida mas extremamente eficaz. Se não tivesse sido, nada disso estaria passando pela minha mente agora.

***
Ainda sobre isso:
Caiu-me nas mãos um livro que, na verdade, escolhi para dar de presente. Mas como a compulsiva aqui lê até anúncio de cartomante, "As dez lições indispensáveis para começar sua vida", da Maria Shriver, é a leitura do final de semana.
Maria Shriver, pra quem não sabe, é a mulher do Schwarzenegger. E é uma Kennedy, ainda por cima. E jornalista. E conta, no livro, dez coisas que foi aprendendo ao longo da vida e que dividiu com uma turma de formandos dos quais foi paraninfa.
Ela discorda em certos aspectos do meu ponto de vista sobre o trabalho; no entanto, mais tarde, diz o seguinte:

O perfeccionismo não torna ninguém perfeito, mas paralisa. Você não perde o seu valor porque não pode fazer tudo. Você é humano. Não dá para escapar dessa realidade. O objetivo é aceitar a si mesmo. Se Shakespeare fosse uma Mulher-Maravilha, ele teria dito: "Ser ou não ser - é preciso tempo e sabedoria."

Bem, a partir daí, posso até concluir que não estou tão errada assim. Optei por priorizar minha carreira, nesse momento. E preciso reconhecer que, depois de muitos percalços, muitas infelicidades e diversas najices, é uma bela carreira. E até nela eu já aprendi a dizer alguns nãos, e reconhecer o que está fora do meu alcance.
Eu já tive um marido. E durante muito tempo, depois da separação, me torturei entre a gratidão por ele ter me ajudado a chegar até aqui (literalmente, percorrer os 1500km de Porto Alegre ao Rio demandaram muito planejamento) e a mágoa do fim. Mas guardava tudo isso em alguma gavetinha, onde meu proverbial perfeccionismo não deixasse atrapalhar as prioridades do momento: primeiro era o mestrado e suas diferentes fases... depois foi o emprego. Por fim, quando concluí o mestrado e, simbolicamente, terminei o que tinha para fazer aqui, o mundo ruiu. Tudo aquilo represado de repente explodiu, e lá fui eu para uma nova fase. A de reconhecer as próprias fraquezas, a de admitir que se precisa de ajuda. É um processo delicado, tenso, doloroso. Se expor deliberadamente é muito difícil, ainda mais para mim que, como ouvi essa semana, "mostro tanto debaixo do que está sempre coberto". Mas foi absolutamente necessário, e continua sendo - porque é um processo lento também.
Embora lento, às vezes pode ter insights muito reveladores. Lembro-me de um em especial, e creio que ele foi vital para a decisão da minha alta pela psicóloga. Eu lembro que estava quase pegando no sono (isso já era uma fase adiantada, quando o remédio para dormir fazia efeito finalmente) e a revelação veio como um flash: era preciso que eu parasse de me massacrar. Eu podia perfeitamente me perdoar por não ter sido uma esposa perfeita num casamento que iniciei aos 21 anos.
Hoje em dia, passados mais de três anos, ainda acho que deveríamos ter tido uma conversa definitiva, ou essa conversa ainda há de chegar. Talvez num boteco, tomando uma cerveja, ou um chá num café qualquer. Mas me sinto em paz e feliz pelo rumos das nossas vidas, eu com meu sonho profissional, ele com o filho que sempre quis. Permito-me rir à beça com os vídeos do bebezinho e acho que ele não tem nada nem do pai, nem da mãe. Parece-me a tia, ou a prima. Mas enfim, bebezinhos mudam, e a gente também, e eu mudei e me sinto melhor assim.
Do mesmo modo, me permito sentir frustração por aquela situação de que falava lá no começo. É uma ferida recente, uma mágoa recente, e desta vez não tenho os 1500km a me separar do conflito. Mas sei que um dia passa; só espero que desta vez eu possa falar o que me passa pela cabeça e pelo coração, porque não é uma terapeuta que merece ouvir.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Em setembro

Em setembro, quase tudo se repete ao redor.
McDias Felizes, viagens, os mesmos lugares.
Menos as ocasiões.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Father figure

Nestes dias almodovarianos, quase a beira de um ataque de nervos, meu inconsciente procura válvulas de escape. E acha, sempre se acha. Engasguei, pela bilionésima vez, com Carpinejar:

Estou conseguindo ser pai. Muitos não tem nem a chance de ser filho. Não há mais nenhum fracasso possível. Ser pai para receber meu pai de volta. Ser pai para me engasgar na própria risada. Ser pai para se parcelar e não se inundar de vergonha.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

What do you want from me?

De verdade?
Dá pra parar com esse cinismo bobo de ficar fuxicando, olhando, como se eu não soubesse?
Dá pra atender um telefone, responder um e-mail?
Ou dar a cara a tapa e bater na porta ao invés de deixar minhas coisas na portaria?
Tu sentes a minha falta? Também sinto a tua.
Também me senti humilhada. Perdida. Sozinha.
E por coisas que não fiz. Só porque reinvidiquei o direito de ter amigos. Os quais, admito, hoje em dia nem são tão presentes assim.
Vai, comemora.
Mas não deixa de aparecer, se isso te fizer tão feliz.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Amigo

Eu faria homenagens e loas ao dia do amigo, mas estou schopenhaueriana demais pra achar que vale a pena. Até porque depois daquela cena de Roberto e Erasmo engasgados chorando debaixo de chuva, o resto é bobagem.
Meus amigos vão entender, e sabem que prestígio não é algo que se dá somente em datas "especiais" (claro que não, sua tonta, é um chocolate). Meus verdadeiros amigos sabem que não esqueço um aniversário, mesmo que não ligue nem dê sinal de vida; já me viram procurando presentes como quem caça um tesouro; lembram que eu lembro deles a todo momento e tenho essa maldita mania de não querer atrapalhar, que acaba me atrapalhando em explicitar o quanto gosto deles. Mas é isso.
Essa segunda-feira podia acabar duma vez.

Lie to me

Bia, arrebentando, mandando ver, tirando as palavras da minha boca (ou mais daqui de dentro?)...
Será que foi uma mentira?