domingo, 2 de março de 2008

Envelheço na cidade

Nunca pensei que minha sina
Fosse andar longe do pago

Lembro-me perfeitamente da anestesia que (não) senti há exatos dois anos. Era uma quinta-feira de cinzas e o Rio de Janeiro estava lindo, o sol cálido e a cidade toda acordando para o que era um ano começando - já que o ano começa sempre depois do Carnaval, não é mesmo? E eu nem sabia que tinha sido aniversário da cidade e que, portanto, era ano novo de vários jeitos.
Pra mim também começava outro ano. E outra vida.
Em Porto Alegre era um dia igualmente bonito. Ou não, não lembro bem. Embarquei cedo da manhã, trazendo duas malas e os olhos pesados. Tinha dormido mal e longe de casa, como durante as semanas precedentes.
Casa, aliás, foi só mais um dos conceitos que abandonei naquele fevereiro de 2006.
Mas recordo do sol que aquecia o Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara e sobre mim, alheia ao movimento do táxi pela Linha Vermelha, entrando no Rebouças, abrindo-se à Lagoa reluzente, procurando pelo edifício quase de esquina, Atlântica com Souza Lima. Entrei, olhei pela janela. A luz refletia todo o verdemar, todo o calçadão, todas as pessoas que podiam estar na praia àquela hora da manhã. Eram dez horas, talvez.
Fechei a janela, liguei o ar e dormi um sono ruim de boas-vindas.
Não creio que vá esquecer tão cedo aquelas sensações dos primeiros dias. Eram tantas, e tão inconstantes, e tão intensas, que não dá nem pra tentar descrever. Todos os passos que dei, Copacabana acima e abaixo, tentando acostumar os pés à pedra portuguesa e o pulmão à maresia constante.
Mas já faz dois anos. Eu sei que era hora de tentar guardar tudo no baú, mas ainda não deu. I wear it like a tattoo. E sigo, sobre-vivendo.

***
Se serve de consolo, hoje também faz um ano de um feliz reencontro.
Uma relação que precisou de um (grande) conflito para provar que era de verdade.
Daria pra citar miles de musiquinhas aqui, mas nesse momento só consigo pensar em Ben:
And you, my friend will see
You've got a friend in me

Um comentário:

Anamein disse...

buáááááá

talento especial p/ isso, né? Pois faço minhas as tuas palavras! E um brinde (ou vários) a isso!

(tu só te enganou na data!)