segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Feedback song for a dying friend

Reza a tradição Wicca que a morte não deve ser encarada com tristeza e pesar, mas com a naturalidade de uma etapa que se encerra para o começo de outra.
Fácil falar, difícil PARA CARALEO de fazer. Em especial quando a pessoa que parte para os jardins esteve numa mesa de bar com a gente há um mês, falando bobagens e tranquilo quanto às suas condições de saúde.
Turuga foi surpreendido pelo destino três vezes. No início, o diagnóstico surpreendente, inusitado, inesperado, insidioso. Mas o tratamento deu a ele e a todos esperança e tranquilidade, a fé necessária para aguardar um transplante de fígado com uma certa qualidade de vida, a certeza de que era só uma má fase que estava perto do fim.
Pela segunda vez, Turuga foi internado em estado grave. Daqui da minha distância tropical, pouco sei das reais condições em que sua saúde evoluiu, mas entendo que foi mais um lance infeliz dos dados que Deus não joga. E enquanto aguardava, no hospital, o carinho de todos nós certamente alimentava a energia daquele que é, com certeza, um dos mais inesquecíveis boêmios da Cidade Baixa.
Turuga não teve chance de se esquivar da menina de preto. Ao entrar na sala de cirurgia, recebendo um fígado do interior do Estado, ela já estava sentada ao seu lado, na mesa, esperando apenas pelo momento mais apropriado. Ela não leu o livro do Destino, seu irmão mais velho, mas ele lhe passou todas as instruções para a surpresa final. E veio buscar o adorável Vitor Hugo, o marido da Clo, o pai do Jorge Hugo, o amigo da porção inteligente de Porto Alegre e o debochador classudo da burrice que grassa por entre a maioria.
Eu só soube da sua viagem quatro dias depois. Estava me preparando para uma festa. E chorei muito, assim como choro agora lembrando dos dez anos que convivemos, mais de perto ou mais de longe, sempre com carinho e bom humor, colecionando pérolas da língua portuguesa e piadas de grosso calibre. Mas não desisti de minha festa. Fiz dela uma homenagem particular àquele que, esteja onde estiver, já deve ter feito uma porção de amigos em torno duma mesa, pedido uma garrafa dum bom tinto e contado as tiradas mais engraçadas da sua curta, porém indelével, passagem por este tonto planetinha em que os bons morrem jovens e os filhos da puta continuam por aí enchendo o nosso saco.

3 comentários:

Kah Heart disse...

Poxa! Adorei a homenagem que fizeste ao amado Turuga. Ele sim era O CARA! Uma vez contei a ele, numa mesa do Zelig, que um cara da portaria do Cabaret escreveu meu nome assim "Karine Concá". Tudo pq eu quis facilitar a escrita correta do meu nome e avisei o moço: Meu nome é Karine com K!
¬¬
Desde então o Turuga só me chamava e escrevia meu nome assim "Karine Concá". E nos doíamos de tanto rir.

Muitas saudades dele. =(

Luciana Grings disse...

Eu é que agradeço a visita e a gentileza, Karine Concá. :)
Turuga já entrou pra galeria das lendas porto-alegrenses. Temos de criar uma frente que prove que ele era não só um pokémon raríssimo, mas que existiu de verdade!

Anônimo disse...

Muito obrigado pelo excelente texto e merecida homenagem ao meu irmão Turuga.Fernando Couto