sábado, 25 de julho de 2009

You learn

O tempo vai passando e a gente vai aprendendo. A duras penas, mas aprende.
A gente aprende, principalmente, que pode certas coisas.
Eu aprendi que posso me permitir estar com raiva, ansiosa, sentindo-me injustiçada, achando que tudo está mal resolvido e que eu merecia uma chance de pelo menos dizer de como penso que tudo não passou de uma babaquice.
Aprendi que posso, sim, achar que tudo em volta está um saco, e que mereço um dia de reclusão no conforto e maciez da minha cama, a salvo das especulações e fofocas alheias poluindo meus ouvidos e desviando minha atenção.
Dei-me conta de que é importante priorizar minhas tarefas cotidianas, rotineiras, aquelas nas quais gasto mais tempo e emprego mais energia. Sim, estou falando do trabalho. O resto é o resto.
E, por último, aprendi que putisgrila, aquela terapia foi rápida mas extremamente eficaz. Se não tivesse sido, nada disso estaria passando pela minha mente agora.

***
Ainda sobre isso:
Caiu-me nas mãos um livro que, na verdade, escolhi para dar de presente. Mas como a compulsiva aqui lê até anúncio de cartomante, "As dez lições indispensáveis para começar sua vida", da Maria Shriver, é a leitura do final de semana.
Maria Shriver, pra quem não sabe, é a mulher do Schwarzenegger. E é uma Kennedy, ainda por cima. E jornalista. E conta, no livro, dez coisas que foi aprendendo ao longo da vida e que dividiu com uma turma de formandos dos quais foi paraninfa.
Ela discorda em certos aspectos do meu ponto de vista sobre o trabalho; no entanto, mais tarde, diz o seguinte:

O perfeccionismo não torna ninguém perfeito, mas paralisa. Você não perde o seu valor porque não pode fazer tudo. Você é humano. Não dá para escapar dessa realidade. O objetivo é aceitar a si mesmo. Se Shakespeare fosse uma Mulher-Maravilha, ele teria dito: "Ser ou não ser - é preciso tempo e sabedoria."

Bem, a partir daí, posso até concluir que não estou tão errada assim. Optei por priorizar minha carreira, nesse momento. E preciso reconhecer que, depois de muitos percalços, muitas infelicidades e diversas najices, é uma bela carreira. E até nela eu já aprendi a dizer alguns nãos, e reconhecer o que está fora do meu alcance.
Eu já tive um marido. E durante muito tempo, depois da separação, me torturei entre a gratidão por ele ter me ajudado a chegar até aqui (literalmente, percorrer os 1500km de Porto Alegre ao Rio demandaram muito planejamento) e a mágoa do fim. Mas guardava tudo isso em alguma gavetinha, onde meu proverbial perfeccionismo não deixasse atrapalhar as prioridades do momento: primeiro era o mestrado e suas diferentes fases... depois foi o emprego. Por fim, quando concluí o mestrado e, simbolicamente, terminei o que tinha para fazer aqui, o mundo ruiu. Tudo aquilo represado de repente explodiu, e lá fui eu para uma nova fase. A de reconhecer as próprias fraquezas, a de admitir que se precisa de ajuda. É um processo delicado, tenso, doloroso. Se expor deliberadamente é muito difícil, ainda mais para mim que, como ouvi essa semana, "mostro tanto debaixo do que está sempre coberto". Mas foi absolutamente necessário, e continua sendo - porque é um processo lento também.
Embora lento, às vezes pode ter insights muito reveladores. Lembro-me de um em especial, e creio que ele foi vital para a decisão da minha alta pela psicóloga. Eu lembro que estava quase pegando no sono (isso já era uma fase adiantada, quando o remédio para dormir fazia efeito finalmente) e a revelação veio como um flash: era preciso que eu parasse de me massacrar. Eu podia perfeitamente me perdoar por não ter sido uma esposa perfeita num casamento que iniciei aos 21 anos.
Hoje em dia, passados mais de três anos, ainda acho que deveríamos ter tido uma conversa definitiva, ou essa conversa ainda há de chegar. Talvez num boteco, tomando uma cerveja, ou um chá num café qualquer. Mas me sinto em paz e feliz pelo rumos das nossas vidas, eu com meu sonho profissional, ele com o filho que sempre quis. Permito-me rir à beça com os vídeos do bebezinho e acho que ele não tem nada nem do pai, nem da mãe. Parece-me a tia, ou a prima. Mas enfim, bebezinhos mudam, e a gente também, e eu mudei e me sinto melhor assim.
Do mesmo modo, me permito sentir frustração por aquela situação de que falava lá no começo. É uma ferida recente, uma mágoa recente, e desta vez não tenho os 1500km a me separar do conflito. Mas sei que um dia passa; só espero que desta vez eu possa falar o que me passa pela cabeça e pelo coração, porque não é uma terapeuta que merece ouvir.

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