terça-feira, 18 de agosto de 2009

Under pressure

Das poucas pessoas que me entendem, uma delas entendeu mais do que as outras e chutou: eu já nasci velha. Devo ter nascido com uns 30 anos. Isso quer dizer que agora estaria chegando perto dos 60, porque não, não sou o Benjamin Button e não fico mais jovem com o passar do tempo.
Acontece que eu acho que não nasci velha: tornei-me velha. Cobraram de mim a maturidade precoce e hoje, quando poderia tranquilamente ser ainda um kiddult, um filho canguru preso à bolsa da mãe como tantos outros, não consigo me livrar desse fardo, desse peso, dessa bagagem. Continuam me cobrando maturidade, comportamento, atitude, experiência. Algumas dá pra fingir; outras, a gente encara de frente, peita a própria vergonha e assume que está na pista pra aprender como todo mundo.
Só que tem coisas que me enlouquecem.
Fico realmente doida comigo mesma quando acabo sucumbindo aos malditos chamados mensais da mãe natureza. Ontem, por exemplo, saí do trabalho começando a ter um surto de dor. Desci do ônibus vinte e cinco minutos depois já atordoada, com a sensação de esmagamento lateral do crânio, mal conseguindo abrir os olhos, leve vertigem tomando conta. Tome Tylenol AP, não tão eficaz quanto a paz duma casa escura em silêncio, mas necessário para poder ir até a farmácia fazer minhas compras.
Antes de dormir, vamos de chazinho, comprimido sublingual para cólica e Neosaldina para a companheira dor de cabeça. Neosa vai ser demitida por incompetência.
Acordei hoje mais cedo que o habitual, tentando ser uma funcionária modelo e ir bonitinha para o curso a que me candidatei... em vão. A brisa que abriu a cortina expôs meus olhos à luz do dia e me flechou direto nos nervos, agulhadas, flashes intensos. Dor.
Dorflex para a segunda tentativa, duas horas mais tarde. Podia ser que tivesse melhorado... tsc, tsc, tsc.
Ormigrein para a terceira tentativa, pelo menos para falar ao telefone e explicar que estava passando mal em casa. E já sentir, no tom de voz, que amanhã o bicho vai pegar pro meu lado.
Antigamente o estatuto do funcionário público previa três dias de folga para "aqueles dias". Hoje em dia a gente ri, acha engraçado, e absurdo até, porque como a lei não podia discriminar homens e mulheres, o que tinha de macho menstruado era uma coisa de louco. Mas eu confesso que bem queria os tais diazinhos pra poder passar mal em paz, sem culpa, sem me sentir fraca, sem achar que estou faltando com minhas obrigações e acabar com essa síndrome de Mulher Maravilha que me acompanha desde o berço.
É melhor eu pensar em histerectomia ou mudança de sexo duma vez.

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