Essa é pra matar todo mundo de orgulho.
Pra quem não sabe, minha vinda para o Rio de Janeiro, em dois de março de 2006, foi só o ápice duma sucessão de eventos que parecem coisa de cinema. Em duas semanas, meu mundo ruiu: num dia acordei casada e terminei separada, passei duas semanas sozinha na casa da minha mãe que viajava, bati o recorde de camas diferentes numa mesma semana porque todo mundo queria me hospedar. Quando cheguei, estava num tal estado de torpor que mal e mal reparei que era uma quinta-feira pós-carnaval resplandecente. Caguei pro mar de Copacabana, que enxergava da janela do apartamento que tinha alugado. Simplesmente fechei as janelas, liguei o ar condicionado e dormi.
Então começou a fase "agora não dá". Sou perita nisso. Empurro as coisas com a barriga como se fossem balões numa gincana. Primeiro não dava pra encarar a rebordosa porque precisava achar um lugar pra morar; depois, tinha de fazer o mestrado andar; por fim, precisava me estabelecer, arrumar uma vida pra viver, e assim foi durante dois anos.
Aí o mestrado acabou e tudo estava em paz. Menos o meu coração. E aí a Sra. Deixa-pra-Depois aqui precisou encarar o bicho de frente, depois de tomar um trancaço da neurologista - em pânico porque nenhum ansiolítico dava jeito na insônia - e do psiquiatra - preocupado porque o antidepressivo não fazia nem cosquinha - e lá fui eu, pra terapia. Nada de tradicionalistas, puristas, freudianos e outros, que vão me matar de irritação. Cognitivo-comportamental, efeito comprovado a médio prazo.
Tive a sorte de acertar a empatia com a primeira que achei. A querida Maria Amélia me fez descobrir um repositório novo de palavras por dia. Acho inclusive que fico guardando palavras durante a semana só pra gastá-las naquela hora, em que falo tanto, tanto, e me canso tanto, tanto, que saio de lá como quem volta da batalha de Stalingrado.
Maria Amélia fala pouco (quando eu deixo, basicamente), mas dá cada tiro certeiro que me deixa impressionada. A cada semana, é um balaço. Mas o maior balaço de todos não foi ela quem deu. Apareceu pra mim, nem sei direito quando foi. Foi por estes dias.
Era inevitável que o fim do meu casamento fosse um dos temas mais recorrentes, além da minha relação (?) com meu pai e outros eventos marcantes da minha vida, a precocidade para a maioria das coisas e a auto-exigência quase insuportável, um perfeccionismo digno de um monge budista em busca do zen.
Depois de discutir que uma das coisas que me perturbava era a ambiguidade do meu sentimento com relação ao meu ex-marido, a quem devo muitas coisas (inclusive o fato de estar no Rio) e por todas elas sou grata versus a indignação com o fim da história... tcha-ran. Engrenagens funcionando.
Conclusão: o problema não é mais ele. Sou eu. Porque pra mim está óbvio que não existem inocentes nessa história, mas o que ele fez com a merda que fez não é problema meu.
Eu é que preciso me perdoar por não ter sido a esposa perfeita, impecável, o que (supostamente) garantiria um casamento duradouro. Eu é que preciso perdoar minha precocidade, minha falta de experiência, meu pouco tato e minha flexibilidade extrema - tão extrema a ponto de me fazer perder a identidade para agradá-lo. Eu é que preciso aprender que não é me violentando a ponto de esquecer do que realmente sou e do que quero que vou garantir um relacionamento saudável, sobretudo comigo mesma.
Podem aplaudir agora. Acho até que vou imprimir para ler para a Maria Amélia.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
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Um comentário:
Que bom, guria! Terapia faz um bem enorme mesmo, pq a gente acaba tendo clics fantásticos, que, se outras pessoas nos dizem, não acreditamos! Tu teve esse... eu tive um excelente esses dias na minha tb... que eu PAREI na formatura, pq pela falta de crédito e aprovação, não me permiti passar daquele estágio. Tu vê...
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