Tô eu lá na esquina de casa, sete da noite, esperando as meninas, e vem o moleque de camiseta toda esgarçada, bermuda imunda e chinelo.
- blablablawhiskassachê e me dá porque eu só quero o telefone e o dinheiro senão eu te dou um tiro no meio da tua cara.
Olhei o guri de alto a baixo, vendo a Carol do outro lado da rua. Apertei a bolsa debaixo do braço e pensei em mim: brinco de três pilas da Renner, uma cordinha preta no pescoço com um pingente de resina (mal sabia ele que era de prata, uma inspiração do Gaudí trazida de Toledo), uma pulseira com a maior cara de biju, sem relógio, jeans, blusa preta, maria chiquinha. E mandei ver, seca:
- Não tenho.
O guri desmontou. Arregalou os olhos, levou uma fração de segundo pra recompor-se num sorriso:
- Tô brincando, tia. Mas me dá um dinheiro pra eu ir ali comer alguma coisa?
Repeti:
- Não tenho. Não tenho!
Aí a Carol vinha chegando e o guri deu o fora.
Fiquei pensando nele enquanto ele atravessava a rua e ia pro Pavão-Pavãozinho. Ah, se o chefe do morro sabe...
domingo, 6 de julho de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário