Sexta-feira, dia do filet mignon da classificação: literatura.
Não tem muito o que discutir. Números prontos, assuntos prontos, o cérebro pode dormir mais um pouco.
Cheguei entorpecida pelo inverno de dez da manhã na Baía, vento e sol meio morno, um convite ao nosso popular "lagartear".
Meio torturante entrar no salão. Aquele barulho, vrrrrrrrrrrrr, incontáveis máquinas gigantes de ar condicionado, revirando o ar poeirento dos séculos que pairam sobre nossas cabeças. E nenhum raio de sol lá dentro até as três e meia da tarde, quando ele invade sem cerimônia por uma fresta, nos obriga a uma pausa, desafia o trabalho na tela do computador.
Sento e pego a parte que me cabe no latifúndio literário, dividido entre os nove classificadores. Não reparo no que estou fazendo. É automático. 808.899282, literatura infanto-juvenil brasileira. B869.3, ficção brasileira. B869.1, poesia brasileira. 882, teatro grego.
Até que ele aparece. Primeiro à minha visão, depois ao meu tato, depois e para sempre no meu olfato.
Satolep.
O prometidíssimo segundo livro do Vitor Ramil.
Cheguei a dar um gritinho com aquela capa azul lavanda, o formato incomum, mais estreito, mais alto. Apertei o volume contra o peito.
Minha chefe ouviu e riu. "Lembrei do nome", disse.
Apertei novamente, ninei, finalmente abri o livro. O cheiro do papel novo, recém impresso, aquele cheiro seco e cinza que o couché nunca alcança. A brochura nova, estalando na minha mão. Aquela prosa, ansiosamente esperada. O palíndromo chamando. Satolep. O tempo também chama. Preciso produzir.
Ou seria melhor largar tudo e ir lagartear com Vitor?
(É claro que seria. Só quem entende a estética do frio sabe o por quê.)
Na memória, a lembrança dos primeiros parágrafos, das primeiras páginas, que me aguardam assim que eu comprar o livro. Nas mãos, o resto da produção do dia, implacável e absorvente.
Enquanto isso, alterno entre Satolep noite, no meio de uma guerra civil e as Memórias dos bardos das ramadas...
sexta-feira, 11 de julho de 2008
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