playing with my heart, and my books.
Bufo & Spallanzani termina assim:
"[...] Foi isso que aconteceu. Essa é a verdade. Não me olhe assim, não posso fazê-la voltar a viver, para morrer de câncer. Não me chame de demônio astucioso. Se você quiser eu vou agora mesmo contar tudo ao Guedes, vou me entregar à polícia. A vida para mim já não vale mais nada. Você quer? Anda, diga."
E Caio F. (cujo F devia ser de Foda mesmo), me apunhalando em cada pequena epifania:
"Frágil - você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal, de algum lugar improvável, Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos, começa a passar.
Outra vez chinês, você se afasta um pouco para ver melhor o ideograma. 'Verdade interior' - você repete. E acrescenta: 'Tenho uma boa taça. Quero compartilhá-la com você'. Estende as mãos para a frente, como se fosse tocar o rosto de alguém. Mas você está sozinho, e isso não chega a doer, nem é triste. Então você abre a janela para o ar muito limpo, depois da chuva. Você respira fundo. Quase sorri, o ar tão leve: blue."
"Vim para casa humilde. Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu 'dói tanto', contei da moça vadia sozinha chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou 'porquê?', compreendi ainda mais. Falei: 'Porque é daí que nascem as canções'. E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?"
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário