O ritual é sempre o mesmo.
Ela liga o ventilador, senta na cama de um lado e se estende até o outro, fechando a cortina de voil.
Deita-se sobre o lado esquerdo do corpo, espichando-o pouco a pouco enquanto encolhe o lado direito. Dobra a perna direita e recolhe o braço direito em torno do travesseiro. Acomoda o bloco macio na curva do pescoço enquanto sente a firmeza da espuma contra as unhas, a fronha da exata medida do seu antebraço que agora descansa entre os travesseiros.
A cabeça aninhada, os cabelos acomodados no seu próprio cheiro. A orelha esquerda, surda dos barulhos de fora, impregnada do silêncio suave envolto em tecido e sono, enquanto a direita ainda segue o ritmo monótono do ventilador de teto com a dança das suas pás.
Os pés se mexem, fruindo da textura dos lençóis como se fosse uma coceirinha de leve. O pé esquerdo, vagarosamente esticado até que os dedos em ponta escapem na borda do colchão. O pé direito, balançando suavemente, medindo, escolhendo o melhor lugar para acomodar a perna que dele sobe.
Não há gatos na casa, mas poder-se-ia jurar que se ouve um ronronar de leve naquele quarto.
Pelo voil, o sol entra e contrasta sem brigar com o vento das pás.
E ao despertar... vai ser uma longa noite.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
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