É foda.
Pra que dormir a noite, não é mesmo, se ficar acordado pensando bobagem é tão mais interessante? Por exemplo, inventei ontem um mini curso prático de análise do discurso.
Confesso minha ignorância mais do que a desejável no ramo da epistemologia. Mas reconheço que me considerei totalmente imersa num mundo socioconstrucionista desde que descobri do que se tratava. E mais: quando soube que alguém já tinha enunciado que "tudo é narrativa", a análise do discurso dominou minha visão de tudo o que me ocorre.
Dito isto, vejamos.
A pessoa manda um e-mail basicamente dizendo que
ouvi uma música e me lembrei de ti. como estás? como foi de ano-novo?
E recebe como resposta
Oi, estou bem. Passei o ano-novo com dois dos meus filhos e o mais velho chega em breve. Espero que o teu tenha sido bom. Pé na tábua em 2008.
Ora, analisando-se pelo viés francês, dir-se-ia pouca coisa além de tratar-se de uma troca de mensagens entre dois adultos urbanos no final do século XX, início do XXI. Francesinhos são assim: contextualizam tudo pelo macro.
Para olharmos este diálogo pela perspectiva sociointeracional, carecemos de um contexto mais específico. Os adultos do século XXI em questão não só se conhecem como se conheceram profundamente* há pouco tempo - coisa de menos de um mês.
- Interlúdio -
Ouvi numa conversa de botequim esses tempos uma teoria interessantíssima sobre como beijo na boca não se dá em qualquer um, que é um ato de grande grau de intimidade e confiança, etc. (doravante, denominada "teoria Linda Mulher").
Seguindo o mesmo raciocínio, por favor alguém me diga qual é o grau Linda Mulher dum momento de silêncio ouvindo música sob os lençóis.
- Fim do interlúdio -
Contexto dado, para bom analista está tudo nas entrelinhas. Afinal, é para isso que serve análise do discurso: para perceber o interdito.
A falta de recursos interrogativos que indiquem o interesse na manutenção do diálogo - lembremos, trata-se de uma interlocução virtual, carente de elementos não-verbais que funcionem como pistas de contextualização - é clara. Ao conduzir sua missiva através de orações meramente afirmativas, o locutor está manifestando sua polidez na resposta, ao mesmo tempo em que exclui as alternativas de continuidade.
Assim, ficarão sem respostas também várias outras perguntas formuladas anteriormente, em momento mais ou menos íntimo, dependendo do grau atribuído na escala Linda Mulher referida em nosso interlúdio.
E para nossa próxima lição de análise do discurso, prometo estudar melhor a análise crítica e trazer ricos exemplos, quem sabe até uns slides super elucidativos.
*Piada mesmo é a pessoa ficar usando eufemismos idiotas como este num tópico que começa com "É foda".
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
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